abril 27, 2004

«50 First Dates»



Título Português: A Minha Namorada Tem Amnésia
Título Original: 50 First Dates
País de Origem: EUA, 2004
Realizador: Peter Segal
Argumento: George Wing
Elenco: Adam Sandler, Drew Barrymore, Rob Schneider, Blake Clark, Sean Astin, Dan Aykroyd
Fotografia: Jack N. Green
Música: Teddy Castellucci
Produção: Columbia Pictures Corporation, Happy Madison
Distribuição Nacional: Columbia TriStar
Género: Comédia, Romance
Duração: 99 min
Classificação Etária: M/12

Depois do decepcionante Anger Management, 50 First Dates assinala o reencontro do realizador Peter Segal com o actor Adam Sandler. Também Sandler se reencontra com Drew Barrymore, com quem tinha contracenado em 1998 na comédia romântica The Wedding Singer - filme de que gosto particularmente e no qual reconheço algum virtuosismo da interpretação de Sandler. Punch-Drunk Love aparte, naturalmente. Afinal, não é todos os dias que o Sandler tem a felicidade de ser dirigido por Paul Thomas Anderson e conquistar um efémero brilhantismo.

50 First Dates, com a acção situada no Havai, conta a história de Henry, um biólogo mulherengo (Sandler) que, um dia, se apaixona por uma bela desconhecida de seu nome Lucy (Barrymore). Como que para castigo por todas as turistas que Henry usou e a quem mentiu, a aparentemente fácil conquista de Lucy vai-se revelar uma tarefa árdua, pois Lucy sofre de um problema de memória de curto prazo; não consegue criar novas memórias, acordando na manhã seguinte sem memória do que viveu no dia anterior. Segue-se a repetição das tentativas infrutíferas de Henry seduzir Lucy, a cada dia que passa, como se da primeira vez se tratasse.

Logo à partida - diria mesmo, antes sequer de se ver o filme - 50 First Dates faz lembrar dois grandes filmes: Memento e Groundhog Day. No thriller Memento, Guy Pearce sofre do mesmo problema de memória e luta de forma obstinada, com recurso a blocos de notas e a tatuagens no corpo, para descobrir o que envolveu o homicídio da sua mulher. Por outro lado, na comédia fantasiosa Groundhog Day, Bill Murray vê-se preso num ciclo temporal, sendo destinado a reviver o mesmo dia vezes e vezes sem conta. A memória do cinema fala por si, e escusado será dizer que tanto Memento como Groundhog Day são dois filmes brilhantes.

50 First Dates é um filme lento a arrancar, a introduzir a condição clínica de Lucy, e percebe-se porquê. Se o filme é minimamente agradável até esse momento, rapidamente se torna demasiado repetitivo, pouco original… e desinteressante. O conceito poético de conquistar a mesma mulher todos os dias, como se fosse a primeira vez, não tem no filme de Segal qualquer profundidade ou real pretensão. É apenas um mero mecanismo narrativo para fazer avançar a história e para justificar uma série de gags com pouca piada que já foram vistos no trailer. O filme torna-se repetitivo. Dez minutos de Memento ou de Groundhog Day são mais profundos, interessantes e estimulantes que todo o 50 First Dates. Recorde-se que em Groundhog Day, a dado momento, também Bill Murray decide conquistar Andie MacDowell, usando como trunfo aquilo que mais íntimo MacDowell lhe tinha confessado no dia anterior. E a sequência funciona.

O filme de Segal é uma comédia assumida, e mal estamos quando todos os momentos de humor são conseguidos com um Rob Schneider (The Animal, The Hot Chick) a fazer de parvo ou com um Sean Astin (Lord of the Rings) com um problema na fala e viciado em esteróides. Como romance, 50 First Dates também está longe de ser exímio. Há pouca química entre Sandler e Barrymore - ao contrário do que acontecia em The Wedding Singer - e nem mesmo o vício narrativo que dá a sensação que Lucy já conhece Henry do dia anterior consegue transpor o encanto da paixão para o espectador. Só mais tarde, cabem a Barrymore as cenas que permitem que o filme de Segal se redima minimamente no género romântico que pretende explorar.

Fosse a acção de 50 First Dates situada em qualquer sítio que não o Havai, e o filme teria tudo para abraçar o desastre. Situar a acção no Havai foi uma escolha certeira. Se, ao vermos o filme, formos esquecendo periodicamente - à semelhança de Lucy - que a obra de Segal é narrativamente insípida, conseguimos pelo menos entregarmo-nos às ídilicas paisagens havaianas, aos animais marinhos, às cores da fotografia de Jack Green e às 32 músicas não-originais que vão pautando todo o filme com arranjos coloridos.

Um filme a ver, ainda que se corra o risco de acordarmos no dia seguinte sem nos lembrarmos de nada.

Classificação: 5/10