março 31, 2004
Também Adrien Brody em «King Kong»
«Star Wars» disponível em pré-encomenda
Ainda o poder redentor de «The Passion of the Christ»
março 30, 2004
«Peter Pan»
Título Português: Peter Pan Título Original: Peter Pan País de Origem: EUA, 2003 Realizador: P.J. Hogan Argumento: P.J. Hogan e Michael Goldenberg, adaptado da peça de J.M. Barrie Elenco: Jason Isaacs, Jeremy Sumpter, Rachel Hurd-Wood, Olivia Williams, Ludivine Sagnier Fotografia: Donald McAlpine Música: James Newton Howard Produção: Universal Pictures, Columbia Pictures, Revolution Studios Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Fantasia, Família, Aventura Duração: 113 min Classificação Etária: M/6 | |
Desta feita é o australiano P.J. Hogan a adaptar a história de Peter Pan, sobre o menino que se recusava a crescer, vivendo mágicas aventuras no reino de Neverland. Hogan fá-lo com relativo sucesso. Se existem momentos mágicos, bem conseguidos ou mesmo comoventes, por outro lado é notório que Hogan não pinta as suas personagens de cor-de-rosa com uma única demão. Se as personagens eram complexas no interessante My Best Friend's Wedding ou no delicioso mas agridoce Muriel's Wedding, também aqui, em Peter Pan, se vislumbra por trás de toda a inocência um tom mais negro na abordagem à peça de J.M. Barrie.
Peter Pan é um filme bem feito, sem dúvidas. Tecnicamente sem falhas, com um elenco funcional e uma grande dose de efeitos especiais que, de forma irrepreensível, conferem a magia ao mundo de Neverland e, consequentemente, a todo o filme. O mais interessante da obra de Hogan será mesmo o cuidado tratamento visual e cromático, sempre presentes. A composição musical de James Newton Howard é eficaz e imprime movimento à acção, transportando-nos para uma outra realidade: a das fadas, dos piratas, da fantasia.
O meu único problema com Peter Pan é o público alvo a quem se destina. O filme de Hogan é um filme de família para crianças, assumidamente. Peter Pan não é um filme para pessoas dos 6 aos 66, ao contrário do que parece estar a tornar-se regra nos filmes destinados a um potencial público mais jovem. Vejam-se as animações da Pixar e da Dreamworks, por exemplo. Gostar ou não de Peter Pan depende apenas da nossa capacidade de nos deixarmos envolver numa história sobre crianças, para crianças. Comigo não funcionou, mas o filme tem tudo para que possa funcionar.
Parece-me ainda que o filme é ligeiramente mais violento do que deveria ser, tendo em consideração o alvo a quem se destina. Existem demasiadas cenas em que o perigo é explorado como mecanismo narrativo. Há ainda alguns tiros, espadas apontadas ao pescoço de crianças e alguma violência física. Como os mais jovens assimilarão essa violência não sei, mas o facto de duas crianças terem abandonado a sala não me passou despercebido. Não querendo ser moralista, não posso deixar de relembrar que falamos do mesmo sistema moral - o norte-americano - que é assolado por uma onda de indignação colectiva com o episódio do seio visível de Janet Jackson no intervalo do Super Bowl.
Em nota de curiosidade: o filme conta com Mohamed Al-Fayed como um dos produtores executivos e é dedicado ao seu malogrado filho, Dodi Fayed - que tinha sido produtor executivo em Hook, de Steven Spielberg.
Classificação: 6/10
Jack Black no remake de «King Kong»
março 29, 2004
Tribunal francês não proíbe estreia de «The Passion of the Christ»
«American Splendor»
Título Português: American Splendor Título Original: American Splendor País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Shari Springer Berman e Robert Pulcini Argumento: Shari Springer Berman e Robert Pulcini Elenco: Paul Giamatti, Hope Davis, Harvey Pekar, Joyce Brabner, James Urbaniak Fotografia: Terry Stacey Música: Mark Suozzo Produção: HBO Distribuição Nacional: Atalanta Filmes Género: Drama, Comédia Duração: 101 min Classificação Etária: M/12 | |
American Splendor retrata a saga do autor de banda desenhada Harvey Pekar que, nunca abdicando do seu emprego como arquivista num hospital de Cleveland, encontrou na BD o escape para a sua existência pessimista, revoltada e vazia. Pekar é uma figura derrotista, hipocondríaca e sem ambições prementes na vida. Não obstante, e um pouco à semelhança do percurso do desenhador de BD Robert Crumb, também ele encontrou na forma de expressão artística um veículo para não sucumbir à loucura. Curiosamente, foi um encontro com Crumb numa feira de velharias que abriu a Pekar os horizontes para um eventual futuro promissor como autor de banda desenhada. Sendo o talento de Pekar para o desenho praticamente nulo, limitando-se a esboçar simples figuras amorfas, foi pela mão hábil de Crumb que as suas histórias, ou melhor dizendo, a sua história, ganhou vida e a série de livros American Splendor encontrou o seu nicho de mercado entre os fãs e coleccionadores de BD.
O filme de Shari Springer Berman e Robert Pulcini confronta-se, à partida, com o problema da potencial falta de empatia que o espectador pode criar com a personagem central: o desinteressado e desinteressante Harvey Pekar. É difícil adorar o filme por uma identificação grande com a personagem. Se alguma empatia pelas angústias da personagem pode existir, cedo se desmorona com a repetição de uma rotina do dia-a-dia demasiado frívola. Pekar caminha e deambula pelas ruas, sem ambições, aceitando um trabalho limitativo, ainda que perfeitamente legítimo. Sabemos que Pekar não está satisfeito, mas também não se mobiliza para mudar a sua vida. O filme poderia funcionar melhor se compreendêssemos o passado de Pekar, mas tal não é abordado, nem tão pouco a complexa personagem parece suficientemente desenvolvida.
American Splendor é visualmente interessante. O filme combina de forma inteligente as regras e o estilo da banda desenhada com as imagens reais, como se a vida de Pekar fosse, de facto, tema de um livro de BD e Pekar fosse a atípica personagem, o anti-herói de uma obra de ficção. E, no fundo, tal é verdade. É também interessante a coexistência de Paul Giamatti (Storytelling, Paycheck) e do verdadeiro Harvey Pekar no filme, como se Pekar fosse também uma figura cinematográfica, de tão estranha que consegue ser. Mas se o resultado final é eficaz, em algumas cenas o efeito é um pouco contraproducente porque cliva um fosso entre o verdadeiro Harvey Pekar e a personagem interpretada por Giamatti. Veja-se, por exemplo, a cena da primeira entrevista no programa de David Letterman em que o resultado da montagem transmite ao espectador que Giamatti é uma versão polida, mais cuidada, eventualmente asseada do verdadeiro Pekar.
De qualquer forma, Giamatti reproduz com verosimilhança a solidão, o desespero reprimido e os maneirismos de Pekar. Por outro lado, Hope Davis (Hearts in Atlantis, About Schmidt), no papel de Joyce - activista e companheira de Pekar - confere algum optimismo ao pesado ambiente derrotista do filme, imprimido por Pekar, chegando mesmo a entregar algumas das cenas mais cómicas e a provocar algumas gargalhadas. Joyce não é uma mulher sã; é neurótica e deprimida, não se coibindo de rotular os que a rodeiam com patologias tiradas da bíblia psiquiátrica, o DSM III (na altura). Mas mesmo assim, é Joyce quem concede algum equilíbrio à vida de Pekar e, por conseguinte, ao filme da dupla Shari Springer Berman e Robert Pulcini. Pekar é um homem com problemas de identificação que sofre com a solidão, e a personagem de Hope Davis atribui ainda ao filme a mensagem suprema de que para todos existe uma cara-metade, mesmo para os mais estranhos, ou simplesmente diferentes - como Pekar se proclamava.
Poderá ser difícil de gostar de American Splendor se nos limitarmos a ver o filme como uma obra sobre um falhado que escrevia sobre ser falhado. Mas é aqui que encontro a poderosa lição deste filme. Pekar era, sim, um falhado. A sua BD American Splendor não só o transportava para dentro das páginas dos livros, como as situações neles retratadas eram decalcadas a papel químico da sua vida quotidiana. Consequentemente, todos os que rodeavam Pekar eram também personagens da sua BD. Onde alguns poderão ver doença ou falta de criatividade no processo criativo de Pekar eu vejo uma forma de escapismo e a derradeira prova de mobilização contra o derrotismo. Pekar demonstra que pior que ser um falhado, só mesmo nunca admitir que se é um falhado; pior que o falhado que tenta tirar proveito da sua condição, só o falhado que se confina num processo de comiseração. Se muitos artistas são abençoados com enorme talento e criatividade de forma algo natural, outros contam com uma estrutura psicológica suficientemente forte - que Pekar não tinha - que os permite investir com resiliência e perseverança contra as adversidades da luta criativa. Outros existem ainda, como Pekar, que escrevem sobre eles próprios e sobre os seus problemas; e não vejo mal nenhum nisso.
Em última análise, American Splendor traduz uma mensagem de esperança universal; sobre o trabalho e sobre o amor.
Classificação: 7/10
Por onde andam os grandes...
Depois do já relativamente distante The Rainmaker, datado de 1997, é ainda incerto o futuro de Coppola e do seu projecto épico Megalopolis. O empenho do cineasta sempre foi grande e ainda se chegaram a realizar testes de câmara, mas o projecto foi abandonado pouco depois dos atentados do 11 de Setembro. No entanto, a saída de Coppola da comissão executiva da MGM há cerca de um ano deveu-se alegadamente ao facto do realizador não conseguir conciliar os interesses da Major com o investimento que queria continuar a pôr em Megalopolis. De acordo com uma entrevista dúbia publicada no início do ano, Coppola terá já inclusivamente começado a filmar com câmaras digitais de alta definição o épico que poderá vir a ser um dos seus projectos mais pessoais.
Steven Spielberg estreará já em Junho o seu mais recente filme, The Terminal. Tom Hanks e Catherine Zeta-Jones interpretam os principais papéis no filme que conta a história de um emigrante que, ao chegar aos Estados Unidos, se vê preso numa teia burocrática devido a problemas com o seu passaporte, acabando por fazer do recinto do aeroporto o seu novo "lar". Quanto a Indiana Jones 4, o projecto parece ter novamente voltado à estaca zero uma vez que o produtor George Lucas rejeitou no passado mês o argumento de Frank Darabont (The Shawshank Redemption). Sendo certo que o trio Lucas, Spielberg e Ford continua ligado ao projecto, não há perspectivas de se começar a filmar antes de 2005.
Com estreia provável marcada para o final do ano está o épico histórico de Oliver Stone sobre Alexandre o Grande, Alexander. Do elenco de peso destacam-se Colin Farrell, Anthony Hopkins, Angelina Jolie, Rosario Dawson, Jared Leto e Val Kilmer. O filme de Stone compete directamente com outro projecto sobre a vida do conquistador, a estrear mais tarde, realizado por Baz Luhrmann (Moulin Rouge) e com Leonardo DiCaprio no papel principal.
Depois de Gangs of New York, o nova-iorquino Martin Scorsese apresentará entre o final de 2004 e o início de 2005 The Aviator, um filme biográfico sobre Howard Hughes. Leonardo DiCaprio dará vida ao playboy milionário dividido entre a indústria cinematográfica e a indústria aeronáutica. O filme conta ainda com as actrizes Cate Blanchett, Kate Beckinsale e Gwen Stefani nos papéis de Katharine Hepburn, Ava Gardner e Jean Harlow, respectivamente.
Depois de Femme Fatale em 2002, Brian De Palma prepara-se para começar a filmar já em Maio a adaptação para cinema do romance de James Ellroy The Black Dahlia. Situando-se a acção em Los Angeles dos anos 40, o filme explora a investigação de dois detectives na senda do assassino de uma jovem actriz. Josh Hartnett, Mark Wahlberg e a bela Scarlett Johansson compõem o elenco principal.
março 28, 2004
Beyoncé Knowles em «The Pink Panther»
Box Office norte-americano (fim-de-semana 26 a 28 Março)
Realizadores unidos em documentário sobre atentados bombistas
O poder redentor de «The Passion of the Christ»
março 27, 2004
Polémica em volta de «The Passion of the Christ» continua em França
«Out of Time»
Título Português: Out of Time - Tempo Limite Título Original: Out of Time País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Carl Franklin Argumento: David Collard Elenco: Denzel Washington, Eva Mendes, Sanaa Lathan, Dean Cain, John Billingsley Fotografia: Theo van de Sande Música: Graeme Revell Produção: Metro-Goldwyn-Mayer Distribuição Nacional: Vitória Filme Género: Thriller, Drama Duração: 104 min Classificação Etária: M/12 | |
Depois de Devil in a Blue Dress, o actor Denzel Washington volta a ser dirigido pelo realizador Carl Franklin em Out of Time - um policial que recupera os elementos seminais do film-noir norte-americano, à semelhança do que já havia acontecido na anterior colaboração da dupla.
O filme situa a sua acção na Florida, onde um chefe de polícia (o veterano Denzel Washington), em colaboração com a detective de quem se está a divorciar (a voluptuosa Eva Mendes), se vê envolvido na investigação de um duplo homicídio em que as vítimas são a sua amante (Sanaa Lathan) e o abusivo marido (Dean Cain). Para seu desespero, o conceituado polícia descobre que todas as pistas o indiciam como presumível autor do crime.
Out of Time é um produto algo atípico, tanto na exploração do tema, como na sua construção narrativa; também o é na definição daquilo que pretende ser. É suposto haver mistério? Ou apenas tensão? O filme é lento a arrancar e perde demasiado tempo na construção de um suposto primeiro acto, nomeadamente no estabelecimento da premissa - o que leva a acreditar que o filme tenta criar uma situação de mistério. Mas não há mistério. No final do primeiro acto tudo é demasiado óbvio. Se as pistas não fossem suficientes, por analogia com outros filmes, facilmente o espectador desvendaria o que se tinha passado e o que se está a passar. Naturalmente, neste momento, o filme peca pelo desinteresse. Não há mistério a desmascarar.
No entanto, numa mudança de género algo radical, Carl Franklin consegue retomar o pulso ao filme, não através do elemento mistério mas através do elemento tensão. Conscientes da inocência do polícia incriminado, facilmente nos entregamos a uma realização que explora de forma hábil e constante situações limite nas quais um homem inocente, centro de uma investigação, esconde, adultera e manipula as provas que o denunciam como culpado. É irrelevante saber o que se está a passar, porque já o sabemos. E aqui, narrativamente, o filme não acrescenta nada de novo. Vive apenas de episódios de tensão, da luta contra o tempo de um homem que tenta provar a sua inocência, ou antes, escamotear a sua alegada culpabilidade. O filme fá-lo com eficácia, no entanto.
Out of Time contém os elementos principais do film-noir: um detective que tenta fazer o bem e acaba por se tornar vítima das suas acções, uma bela e sensual femme-fatale, uma mala cheia de dinheiro. Mas se os elementos do noir estão presentes, o ambiente não é suficientemente escuro, pesado e pessimista - como o género exige, por definição. Franklin encontra o seu estilo com cores mais vivas, assim como já tinha feito em Devil in a Blue Dress, sons latinos de Graeme Revell e uma abordagem moderna. E se o filme, ainda que convencional e ornamentado por clichés, não é traído pelo tom que decide assumir, é ferido de morte com um final totalmente despropositado que pisca o olho a um público menos exigente.
O filme de Franklin é um produto estranho. Como se se tratasse de um policial que confessa ao espectador logo no início que a culpa é do mordomo, e que aposta depois na representação dos actores e no exercício de realização para manter o espectador interessado. Out of Time consegue envolver, mas é difícil ignorar que em determinada parte do filme existe pretensão de mistério. E tudo é demasiado previsível.
Classificação: 6/10
março 25, 2004
«The Rundown»
Título Português: Bem-Vindos à Selva Título Original: The Rundown País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Peter Berg Argumento: R.J. Stewart e James Vanderbilt Elenco: The Rock, Seann William Scott, Christopher Walken, Rosario Dawson, Ewen Bremmer Fotografia: Tobias A. Schliessler Música: Harry Gregson-Williams Produção: Universal Pictures Distribuição Nacional: Columbia TriStar Género: Acção, Aventura, Comédia Duração: 104 min Classificação Etária: M/12 | |
Depois da comédia-negra Very Bad Things, o actor e realizador norte-americano Peter Berg apresenta-nos The Rundown - um filme de acção e aventuras, com muita comédia à mistura, sobre um especialista em "cobranças difíceis" que é enviado por um mafioso para a selva amazónica com a missão de trazer de volta o seu filho.
Se há um ano atrás se falasse de um filme com o antigo campião de wrestling The Rock (The Scorpion King) e Seann William Scott (Dude, Where's My Car?, American Pies), as pessoas franziriam o sobrolho, desconfiadas quanto ao produto final. Fracas expectativas teriam os mais cépticos, certamente. Mas The Rundown revela que, se maus actores existem, pode existir um bom processo de casting e que, em último caso, qualquer "mau" actor acaba por encontrar o veículo ideal no cinema. É muito fácil gostar de The Rock e Seann William Scott neste filme.
A The Rock e Seann William Scott juntam-se o pérfido Christopher Walken e a sensual Rosario Dawson na difícil demanda de um tesouro e o resultado é um filme honesto e despretensioso, carregado de acção, com rasgos de comédia frequentes, que funciona e consegue envolver o espectador de forma quase contínua. A montagem rápida e o uso (e abuso) dos grandes planos conferem ao filme um ritmo frenético e o rico ambiente cinematográfico da densa floresta, com todas as cores e texturas, transportam o espectador para dentro da acção facilmente. Existem alguns problemas de efeitos especiais (mattes na apresentação da mina, pelo que percebi); também as dobragens dos diálogos em brasileiro são francamente distractivas, pela má sincronização, mas como o texto tem piada, a coisa passa sem problema de maior.
Na tradição de aventuras como os filmes de Indiana Jones ou Romancing the Stone, o filme de Peter Berg reinventa-se com doses maciças de cenas de luta, duras e cruas, mas sempre filmadas com grandes doses de comicidade, não retirando portanto verosimilhança ao exagero daquilo que facilmente poderia ser considerado disparatado num filme que se tentasse levar mais a sério. The Rundown funciona porque tem noção do filme que pretende ser. E se o conteúdo já foi visto em dezenas de outros filmes, o estilo que Berg imprime é muito próprio.
The Rundown parece-me um filme destinado a um público predominantemente masculino, se bem que a composição da sala onde assisti à projecção era ecléctica. Filmes destes, que facilmente se confundem e são rotulados de filmes menores, não o são; na verdade, são filmes que fazem falta. Porque se muitos propósitos tem o cinema, um deles é, e convém não esquecer, entreter e envolver o espectador com uma história bem contada.
Classificação: 7/10
março 24, 2004
«Capturing the Friedmans»
Título Português: Os Friedmans Título Original: Capturing the Friedmans País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Andrew Jarecki Elenco: Arnold Friedman, Elaine Friedman, David Friedman, Seth Friedman, Howard Friedman, John McDermott, Frances Galasso, Joseph Onorato Fotografia: Adolfo Doring Música: Andrea Morricone Produção: HBO Documentary Distribuicão Nacional: LNK Género: Documentário Duração: 107 min Classificacão Etária: M/16 | |
Os Friedmans são uma típica família norte-americana de judeus de classe média-alta, com uma casa num pacato subúrbio nova-iorquino e um pai de família respeitável e respeitado pela sociedade; professor de renome, com talento musical e um interesse notório pelos primeiros passos de uma era informática que se adivinhava. Esse mesmo pai, Arnold Friedman, com um casamento normal e três filhos, era pedófilo. Ou não? E o filho mais novo, Jesse Friedman, terá participado em dezenas de crimes sexuais também. Ou também não?
Capturing the Friedmans, a primeira obra do realizador Andrew Jarecki, em nada é um filme simples; é antes um poderoso ensaio sobre a família, sobre a justiça, sobre a sociedade e, acima de tudo, sobre a verdade e a nossa percepção da mesma. O documentário dá-nos a conhecer uma família aparentemente normal, como tantas outras, que se desintegra de forma visceral quando uma encomenda do pai é interceptada pelos Serviços Postais e o seu conteúdo tornado público - material pornográfico infantil. Na sequência de um turbilhão de acontecimentos e incredibilidades, Arnold viria a ser preso por pedofilia, e o seu filho mais novo, Jesse, julgado mais tarde, seria também condenado por crimes de abuso sexual contra menores.
Por excelência, um documentário deve provocar debate, motivar reflexões e obrigar o espectador a interrogar-se sobre a realidade em que está inserido. Se o filme documental conseguir cumprir tais propósitos de forma ténue e imparcial, tanto melhor. De notar que a real imparcialidade no cinema não pode, por definição, existir, a partir do momento em que qualquer obra parte do olhar, subjectivo portanto, de alguém. Mas se Michael Moore (Bowling for Columbine) é assumidamente faccioso, Andrew Jarecki transforma Capturing the Friedmans num exercício de subtileza e ambiguidade que consegue ser um paradigma deste tipo de documentários que, sem tomar partidos ou ser maniqueísta, tanto acrescentam a um futuro legado cinematográfico.
O filme de Jarecki diz tudo mas ao mesmo tempo não diz nada. E porquê? Porque a "verdade" é bem mais complexa que simples testemunhos, alegadas denúncias, ou mesmo assumidas confissões na primeira pessoa. Através da confrontação de factos, a "verdade" pode mesmo nunca chegar a existir. E Jarecki relaciona a extrema dificuldade da análise do que é verdadeiro, directamente com os limites, com os excessos e com as falhas que um sistema de justiça assente nessa "verdade" pode conter. E vai mais longe, perguntando se será válida uma manipulação dos procedimentos dos agentes da justiça nessa busca da "verdade". E que perigos tal acarreta? Jarecki levanta as questões, mas não oferece respostas.
Talvez a única verdade que se possa extrair do provocador Capturing the Friedmans seja a existência de uma profunda e inegável disfunção interpessoal no seio da família Friedman. Uma disfunção presente em tantas outras famílias, aparentemente normais, que momentos de crise transporão, de forma explosiva, para fora das quatro paredes do lar. Se crimes sexuais com menores são hediondos e injustificáveis, o que é realmente perturbador no filme de Jarecki é a forma como assistimos ao desmoronamento de uma família que, outrora unida, segue em cinco direcções opostas quando confrontada com o horror. Se uns vivem fases de negação, como o irmão mais velho David, que se recusa a acreditar nos factos imputados à família, outros não se coíbem em deitar por terra décadas de um casamento em conjunto, como a mulher e mãe Elaine. Se a cena de Mystic River em que Laura Linney perdoa e protege o marido Sean Penn do crime que cometeu é constrangedora, aqui a realidade apresenta-se de forma ainda mais desconcertante.
Capturing the Friedmans é um produto concebido e materializado pelo estreante Jarecki, mas não deixam de ser os Friedmans que se "capturam" a si próprios - quer em suportes magnéticos quer na sua própria loucura - com horas infindáveis de vídeos caseiros. Tudo é objecto das suas câmaras amadoras: as férias na praia, o crescimento dos filhos, as banalidades do dia-a-dia… e, de forma bizarra, as discussões privadas e angustiantes de uma família em crise, dividida pela incerteza. Tudo foi registado: os gritos, os choros, as súplicas para que a câmara fosse desligada. No fundo, os Friedmans construíram o seu próprio documentário. E se muitas questões levanta este filme, uma delas será, sem dúvida, qual o tipo de patologia de uma família que filma as suas próprias discussões, ainda mais com condenações e ordens de prisão iminentes?
Numa altura em que o processo Casa Pia dá e ainda dará que falar, Capturing the Friedmans não deve ser confundido com um filme sobre pedofilia. O tema do abuso sexual de menores é apenas - se é que tal pode ser dito - um pretexto para uma análise profunda sobre os infernos latentes em famílias insuspeitas e para um magistral estudo sobre as causas e efeitos de uma família disfuncional, em ruptura. É, também, uma chamada de atenção para a nossa interpretação da "verdade" e para os perigos que essa subjectividade pode provocar em sistemas delicados como o judicial.
Brilhante.
Classificação: 9/10
março 23, 2004
«Timeline»
Título Português: Resgate no Tempo Título Original: Timeline País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Richard Donner Argumento: Jeff Maguire e George Nolfi, adaptado do romance de Michael Crichton Elenco: Paul Walker, Frances O'Connor, Billy Connolly, Gerard Butler, Anna Friel Fotografia: Caleb Deschanel Música: Brian Tyler Produção: Paramount Pictures, The Donners' Company Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Aventura, Ficção Científica Duração: 116 min Classificação Etária: M/12 | |
Depois de ter visto o trailer, fui ver Timeline sem grandes expectativas; as mesmas não foram logradas. O mais recente filme de Richard Donner (Superman, Lethal Weapons) adapta um romance de Michael Crichton (Jurassic Park, Congo) e o resultado é fracamente desinteressante. O filme não funciona.
Talvez por ter visto o trailer, nem a premissa narrativa é suficientemente forte. Temos um grupo de jovens arqueólogos instalados com um professor nas ruínas de um castelo do século XIV situado numa pequena povoação francesa. Dois dias depois do professor se ausentar para se encontrar com os mecenas do projecto, é encontrado nas escavações um pedido de ajuda do mesmo datado de 600 anos antes. O grupo de estudantes desloca-se às instalações da empresa que os financia para vir a descobrir que foram feitas experiências com uma recente máquina que permite viajar no tempo e que o professor se encontra preso no ano 1357, no meio de uma batalha feudal entre ingleses e franceses. Como seria de esperar, os jovens prontamente se voluntariam para o resgate do mentor.
À partida, o filme soa a incoerente porque parece não encontrar seu género nem no filme de aventuras medieval nem no filme de ficção científica sobre viagens temporais. A acção alterna entre o presente e o passado num resultado nada sólido. Parece-me que Donner viu na obra de Crichton o veículo ideal para explorar um tema que tão habilmente já explorou no passado com Ladyhawke - o medieval - ou mesmo repetir o filme de aventuras (The Goonies é também um bom exemplo). Só que Timeline, de aventura tem muito pouco. Apesar de Donner ser um realizador competente, toda a aventura do filme se resume a pouco mais que uma sequência de ataque a um castelo e alguns encontros fortuitos no meio da floresta. Tudo o resto é vazio e desprovido de qualquer interesse.
Nem o tema das viagens temporais e seus paradoxos indissociáveis constituem motivo de atenção para o espectador. A abordagem é superficial e as questões levantadas são as usuais. De aplaudir, no entanto, que o filme não tenha pretensões moralistas em criticar severamente o poder de deus que o comum dos mortais adquire quando viaja no tempo.
De um elenco de segunda, se é que alguém se destaca, será Paul Walker (The Fast and the Furious, Joyride) por não estar tão mal quanto poderia estar. Mas nem actores vagamente conceituados como Billy Connolly ou Frances O'Connor fazem esquecer que Timeline é um produto fraco que nem o objectivo de tentar situar o espectador na época medieval consegue atingir.
Estando bem executado, com efeitos especiais eficazes e uma reconstituição da época claramente sustentada por um orçamente avultado, o filme é traído narrativamente pelo material em que se baseia. Timeline não entretém, e depois de abandonada a sala de cinema, fica pouco, muito pouco.
Classificação: 4/10
«The Passion of the Christ» com problemas de exibição em França
Está levantado o véu da censura? Se bem que Karmitz tem o direito de escolher os filmes a serem projectados nas suas salas, a atitude proibitiva não deixa de revelar também algum fundamentalismo baseado numa apreciação pessoal da obra. Talvez estejamos hoje, passados 2000 anos, perante a mesma intolerância que Gibson retrata no seu filme. Não obstante, o público francês poderá ver The Passion of the Christ noutras 480 salas do país, já a partir de 31 de Março.
Alvaláxia - multiplexes do futuro?
Tinha já ouvido comentários positivos relativamente a algumas salas e à qualidade da projecção, mas tinha também sido avisado de que as últimas salas eram fracas, por serem demasiado pequenas. Arrisquei e comprei um bilhete para a Sala 12 (uma das últimas, portanto). A sala é, de facto, pequena, mas a experiência de aí ter assistido a uma sessão de cinema foi bem mais gratificante do que algumas projecções às quais tenho assistido em grandes multiplexes de multinacionais como a Warner Lusomundo. A Sala 12 tem condições superiores a muitas salas de Lisboa e arredores: a projecção é impecável, com a imagem perfeitamente focada; o som é manifestamente de qualidade superior; as cadeiras são largas e há espaço para as pernas; a forma de anfiteatro permite que se consiga ver o filme confortavelmente. E se a Sala 12 é das mais fracas – como dizem - estou ansioso por ver filmes nas salas maiores. De louvar ainda a segmentação de preços aplicados e os programas de fidelização de clientes em vigor no Alvaláxia numa altura em que muitas salas não praticam sequer o preço de 2ª feira ou beneficiam estudantes com preço reduzido.
Se uma altura houve em que os cinemas tradicionais se sentiram ameaçados com o êxodo do seu público para os multiplexes situados nas grandes superfícies comerciais, facilmente se reconhece que esses mesmos multiplexes foram agora ultrapassados por espaços como as salas da UCI no El Corte Inglês e os Cinemas Millenium no Alvaláxia.
Espero, no entanto, que a impecável projecção a que assisti não constitua excepção e muitas mais se repitam.
março 22, 2004
Box Office norte-americano (fim-de-semana 19 a 21 Março)
março 21, 2004
A nova paixão de Gibson
Mel Gibson, ainda alvo de ataques por parte de líderes judeus quanto ao alegado carácter anti-semita de The Passion of the Christ, afirmou em declarações à ABC Radio que poderá vir a realizar um filme sobre a origem do feriado judeu Hanukkah. Gibson vê como um Western a história da Revolta dos Maccabees que, pegando em armas, travaram uma guerra de três anos contra o rei Antiochus, 200 anos antes no nascimento de Jesus, levando à libertação de Jerusalém. Figuras proeminentes da comunidade judaica já comentaram o facto e, agradecendo a Gibson o interesse pelo tema, pediram-lhe para se abster de deturpar a História. Numa altura em que a rentabilização comercial de The Passion of the Christ ainda tem muito para dar, ficam por conhecer as verdadeiras motivações de Gibson. Mero interesse pelo tema? Mais ambições financeiras? Ou simples tentativa de desviar os olhares mais críticos do seu recente filme?
Quando o realizador paga pelo projeccionista
Acontece que, salvo honrosas excepções, o responsável não foi o técnico de som nem sequer o realizador imagina que os microfones que tanto cuidado teve em garantir que não aparecessem em campo possam estar a ser vistos pelo espectador comum como se o filme se tratasse de um making-of ou mesmo de uma aula de “som no cinema”.
Um conceito fundamental na teoria do cinema é o conceito de enquadramento – o realizador compõe um quadro em que escolhe a imagem a mostrar ao espectador e ao fazê-lo está simultaneamente a escolher tudo aquilo que não quer mostrar. É um processo de escolha mas sobretudo de exclusão. O cineasta, como que munido de uma janela, faz a sua selecção da realidade para mais tarde ser projectada no grande ecrã. Em muitos filmes, durante a rodagem, o negativo está totalmente exposto, o que significa que a área da película que está a ser impressa é superior à do enquadramento que o realizador escolheu. Como tal, tudo o que está adjacente a esse quadro escolhido pelo realizador – sejam microfones, projectores ou mesmo as palas da câmara – está também a ser registado no negativo; sem preocupações, no entanto, uma vez que a posterior projecção do filme deverá respeitar o enquadramento escolhido aquando da filmagem através de uma janela que esconde tudo o que foi impresso no negativo para além do enquadramento desejado. Quer isto dizer que, idealmente, não serão vistos nas salas de cinema os projectores, os microfones ou o restante material utilizado para falsear a realidade durante o processo de rodagem.
O problema acontece quando o projeccionista da sala de cinema local, seja por ignorância, mero desleixo ou falta da janela de projecção adequada, escolhe projectar o filme com uma janela que não a correcta, ou mesmo sem janela alguma. Conclusão: tudo aquilo que o realizador escolheu não ser visto está a aparecer na tela perante o espanto do espectador que vai comentando com o dedo em riste “Olha! Um microfone!” O mesmo acontece com projectores, palas da câmara, colchões utilizados para quedas ou mesmo em cenas de alegada nudez em que percebemos que o actor e a actriz não estão de facto totalmente despidos.
Ocasionalmente, existem erros nas filmagens que fazem com que um microfone apareça em campo durante uns breves segundos. Tal não está relacionado com má projecção – o microfone entrou, de facto, no enquadramento escolhido pelo realizador e não foi possível repetir a cena. Mas são situações pontuais. Quando o microfone entra em campo 5, 6, 7 vezes durante o filme, a justificação será, de certeza, má projecção.
Falando na realidade Lisboeta, existem salas mas quais a maior parte dos filmes que não são panorâmicos (ie, ecrã largo, widescreen) são projectados de forma deficiente, seja por escolha incorrecta da janela de projecção, seja pela simples ausência da mesma. Nomeadamente, cinemas Ávila e Mundial.
março 19, 2004
Bloom próximo Bond?
De acordo com a Digital Spy, o jovem britânico Orlando Bloom (The Lord of the Rings, Pirates of the Caribbean) pode vir a ser o susbtituto de Pierce Brosnan na série de filmes do famoso espião 007. Apesar de não haver confirmações e de, certamente, se tratar apenas de um boato, os fãs da série não esperaram para mostrar já o seu descontentamento na alegada aposta dos produtores em rejuvenescer a imagem de Bond. De referir que Brosnan está ligado contratualmente apenas a mais um filme da série.
A informatização dos resultados de Bilheteira
«Wrong Turn»
Título Português: Escolha Perigosa
Título Original: Wrong Turn País de Origem: EUA/Alemanha Realizador: Rob Schmidt Argumento: Alan B. McElroy Elenco: Desmond Harrington, Eliza Dushku, Emmanuelle Chriqui, Jeremy Sisto Fotografia: John S. Bartley Música: Elia Cmiral Produção: Regency Enterprises, Constantin Film Produktion Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Terror Duração: 84 min Classificação Etária: M/16 | |
Realizado por Rob Schmidt, Wrong Turn é um filme de terror de adolescentes que explora as desventuras de um grupo de jovens perdidos na floresta enquanto travam uma luta pela sobrevivência contra uma estranha família de canibais.
O filme recupera um pouco as regras e o estilo dos filmes de terror dos anos 70 e as referências a filmes como The Texas Chainsaw Massacre e Deliverance estão bem presentes. Ainda que diferente da maioria dos filmes do género que se têm visto ultimamente, Wrong Turn não deixa de ser convencional, previsível e, acima de tudo, politicamente correcto na exploração do gore e da carnificina. Também os clichés do género estão presentes um pouco por todo o filme e os sustos são quase sempre conseguidos com o usual som-estridente-com-imagem-inesperada. Mas Rob Schmidt consegue criar também uma atmosfera claustrofóbica, de tensão, com relativo sucesso.
Felizmente, Wrong Turn não sofre do síndrome do filme que tenta ser mais inteligente que o espectador – como acontece com muitos filmes do género – e logo, não é traído por buracos de argumento. Não há reviravoltas, apenas sustos. O filme é o que é; não acrescenta nada de novo mas também ninguém disse que a função de um filme não pode ser a de entreter e proporcionar uma experiência ao espectador. Wrong Turn, filmado de forma escorreita, consegue ser eficaz, rápido e tenso, cumprindo os seus propósitos durante os 90 minutos de filme.
Classificação: 6/10
março 18, 2004
«Dead End»
Título Português: Dead End - Terror Sem Fim
Título Original: Dead End País de Origem: EUA/França 2004 Realizador: Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa Argumento: Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa Elenco: Ray Wise, Alexandra Holden, Lin Shaye, Mick Cain, Amber Smith, Billy Asher Fotografia: Alexander Buono Música: Greg De Belles Produção: Captain Movies, Sagittaire Films Distribuição Nacional: New Age Entertainment Género: Terror, Thriller Duração: 85 min Classificação Etária: M/12 | |
Produzido com um orçamento reduzido e rodado num curto espaço de tempo nos arredores de Los Angeles, Dead End assinala a estreia na realização da jovem dupla francesa Jean-Baptiste e Fabrice Canepa. Vi o filme no Fantasporto, onde o mesmo se apresentava em competição na Secção Oficial de Cinema Fantástico. Sem ter visto previamente qualquer trailer, apenas tive oportunidade de ler uma breve linha que apresentava a premissa do filme, francamente interessante e com grandes potencialidades, por sinal. Considerando-se ainda o facto de Dead End ter já recebido alguns prémios de Público e Júri por festivais por onde foi passando, o filme da dupla francesa tinha tudo para ser alvo de grandes expectativas nesta edição do Fantasporto.
O filme rapidamente estabelece a situação. Véspera de Natal. Uma estrada escura. A caminho da casa dos sogros com a sua família, um homem opta por tomar um atalho pela primeira vez em 20 anos. O pesadelo começa. Do reduzido elenco destacam-se pela popularidade o veterano Ray Wise (Twin Peaks) e a modelo Amber Smith.
Encontro para Dead End dois potenciais tipos de público: aqueles que considerarão o filme previsível à partida, e logo uma experiência falhada; e aqueles que, deixando-se levar pelas mãos dos realizadores, sem levantar questões, conseguirão deixar-se envolver nos quase 90 minutos de filme constituindo o mesmo uma experiência gratificante.
Para mim, Dead End, um filme com tanto potencial pela premissa em que se baseia, é um filme falhado porque, não primando pela originalidade, cedo se torna previsível – demasiado cedo e demasiado previsível. Tudo é demasiado óbvio no filme da dupla francesa, são dadas demasiadas pistas. E cada vez que a plausibilidade das situações é posta em causa, mais certos estamos do que a reviravolta final não nos surpreenderá.
Com um estilo independente e uma falta de recursos que não passa despercebida, resta aos realizadores, também argumentistas, explorar de forma hábil e ininterrupta os elaborados e por vezes hilariantes diálogos entre a família disfuncional na qual o filme se centra. O terror parece estar condicionado pelas limitações de orçamento e a tensão deixa de ser eficaz quando nos apercebemos do que realmente se está a passar.
Gostava que Dead End me tivesse surpreendido, mas tal não aconteceu, e do mesmo se queixavam várias pessoas à saída do filme, no Rivoli do Porto. É fácil reconhecer todo o humor negro envolto nas situações familiares retratadas no filme e aplaudir os diálogos escritos pelos dois jovens franceses. Mas Dead End é um filme de terror que se promove por uma reviravolta final surpreendente. E tal não acontece, até porque a reviravolta não é original, já foi abordada noutros filmes.
Dead End é uma experiência frustrante porque sendo um filme de terror e mistério, apenas consegue subsistir como exercício de humor negro (ainda que muito bom, diga-se) acerca de uma família disfuncional.
Classificação: 5/10
Spielberg e Cruise envolvidos em «A Guerra dos Mundos»
março 16, 2004
«The Passion of the Christ»
Título Português: A Paixão de Cristo
Título Original: The Passion of the Christ País de Origem: EUA, 2004 Realizador: Mel Gibson Argumento: Mel Gibson e Benedict Fitzgerald Elenco: Jim Caviezel, Monica Bellucci, Maia Morgenstern Fotografia: Caleb Deschanel Música: John Debney Produção: Icon Productions Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Drama Duração: 127 min Classificação Etária: M/16 | |
O polémico filme de Mel Gibson que reconstitui as últimas doze horas de vida de Cristo é mais que um mero filme; é um verdadeiro fenómeno. Em boa parte por toda a controvérsia em que, desde cedo, o realizador e o filme se viram envolvidos, muito antes de alguém ter visto excertos ou imagens sequer. A Paixão de Cristo é um fenómeno de massas que o passar dos dias tenderá a perpetuar.
Além das consideráveis receitas de bilheteira que o filme está a gerar um pouco por todo o mundo, A Paixão de Cristo está a levar ao cinema um certo público que apenas esporadicamente assistia a uma projecção no grande ecrã. A tão balada polémica acerca do carácter anti-semita (ou não) do filme obriga qualquer pessoa a deslocar-se ao cinema uma vez que, mais cedo ou mais tarde, todos terão que ter opinião formada sobre um assunto que, naturalmente, já é e será motivo de conversas informais um pouco por todo o lado, em todos os escalões da sociedade.
O interesse desmesurado dos espectadores reflecte-se numa sala de cinema francamente composta para uma sessão das 13h num dia de semana. Na verdade, não tenho memória de muitos mais filmes que tenham arrastado tantos espectadores para uma sessão de hora de almoço de um multiplex situado numa superfície comercial.
O filme de Mel Gibson é brutal, de uma violência extrema. Qualquer adjectivo é insuficiente para qualificar a brutalidade de A Paixão de Cristo. Na sequência da edição do Fantasporto deste ano constatei que todos os filmes que eram precedidos do aviso “contém cenas eventualmente chocantes” não passavam de meras incursões pelo terror de filmes de adolescentes ou algum gore controlado por uma lógica de mercado em que impera o politicamente correcto. O filme de Gibson é mais chocante que qualquer filme que passou na edição deste ano do Fantasporto; diria mesmo que A Paixão de Cristo contém mais gore que os filmes que estiveram em competição no Porto. E digo ainda que o número de pessoas, certamente constrangidas, que abandonou a sala no filme de Mel Gibson foi superior ao índice de desistências em qualquer das sessões deste ano do Fantasporto.
O filme é tecnicamente correcto, contém uma montagem eficaz e é acompanhado por uma banda sonora adequada e emotiva. O processo de casting não revela uma falha. Ainda que se tenha falado em outros nomes em fases iniciais, tanto Jim Caviezel como a romena Maia Morgenstern e a bela Monica Belluci são perfeitamente verosímeis nos papéis de Jesus, Maria e Madalena, respectivamente. Contudo, não acredito que o filme será lembrado por nenhum dos aspectos que acabei de referir. O filme será lembrado, sim, pela brutalidade das imagens que apresenta, pela crueldade humana retratada de forma quase pornográfica e pela tortura incomensurável que o filme impõe aos espectadores.
O filme de Mel Gibson transpõe, sem margem para dúvidas, a ténue linha que delimita a capacidade do espectador gostar ou não de um filme através da empatia que cria com a obra - com as personagens e com os seus dilemas. Em nome do rigor histórico, Gibson e o também argumentista Benedict Fitzgerald, ousam transportar para o espectador o sofrimento de Jesus nas suas derradeiras horas, sendo o resultado uma experiência totalmente masoquista para quem deveria antes sentir um mínimo de conivência com as imagens que lhe são oferecidas. É impossível adorar o filme, a menos que se acredite que o mesmo se trata da mais fiel reconstituição histórica – e tal não é possível. Estamos no campo dos filmes que são sádicos para o espectador. Relembro-me do austríaco Funny Games, mas enquanto este “brincava” de forma assumida com o público, o filme de Gibson esconde o seu sadismo por trás de um alegado rigor histórico. Mas não deixa de ser sádico.
O cinema não tem que mostrar tudo. O cinema pode sugerir, e sabe-se perfeitamente que o efeito sugestivo pode ser ainda mais forte do que aquilo que nos é mostrado explicitamente. A Paixão de Cristo peca pelo exagero das imagens que apresenta, pelos planos desnecessários, quase gratuitos, de tão chocantes que são. E ao apresentar-se de tal forma, o filme transforma-se numa experiência penosa para o espectador que, juntamente com Maria e Madalena, assiste de forma quase voyeurista ao sofrimento, à tortura e à crucificação de Jesus.
O filme ainda mais penoso se torna ao sermos constantemente relembrados que Jesus escolhe morrer pelos pecados da humanidade. Não há empatia possível, somos arrastados com Cristo para a caminhada da dor. Apenas nos resta a entrega à brutalidade das imagens e à angústia de todo o sofrimento que ainda nos será mostrado até ao momento final. O assumido exagero do castigo, da punição, do sangue, assume proporções de quase glorificação da humilhação humana. E como no filme nada mais é focado senão as últimas doze horas da vida de Jesus, o mesmo falha em transmitir ao espectador aquilo por que Cristo escolheu a morte. Se o filme não acrescenta nada de novo aos factos históricos já sobejamente conhecidos, as duas horas de A Paixão de Cristo alimentam-se da exploração do sofrimento do Messias.
Apenas encontro uma justificação possível para a atrocidade das imagens do filme: a intenção de Gibson mostrar o sofrimento a que, na sua visão, Cristo foi sujeito no processo de condenação. Mas, nesse caso, pelo exagero e ferocidade das imagens, o filme torna-se redutor ao cingir-se a uma sucessiva exploração de cenas de sofrimento.
Um filme para ver mas não rever.
Classificação: 5/10
março 12, 2004
Remakes - Falta de ideias ou uma nova visão?
Por Fred.
Já há algum tempo que ando a pensar fazer um texto sobre remakes. Aproveito a iminente estreia do remake do Texas Chainsaw Massacre para reflectir sobre o assunto. Para começar tenho uma confissão a fazer:
ODEIO REMAKES!
Mas esta afirmação é demasiado simplista e generalista para ter alguma validade. Vou tentar analisar o que leva muitos cineastas de renome a aventurarem-se pelo mundo dos remakes, com a simples desculpa de ser uma nova visão.
Muitas pessoas ainda não repararam, mas existem vários tipos de remakes. Existem os remakes que eu considero irrelevantes, geralmente comédias, onde pegam em filmes que não são muito conhecidos ou tiveram um moderado sucesso na sua época e espetam-lhes uma estrela. tipo Steve Martin ou Eddie Murphy e remodelam-nos para um novo público nascendo assim os Dr. Doolitles, Cheaper by the Dozens ou Father of the Brides deste mundo. Estes remakes não me interessam, mas penso que são os mais inofensivos pela sua despretensiosidade e pela falta de qualidade dos originais.
A seguir existem os remakes mais sérios, onde os grandes estudios pensam que é uma boa ideia pegar num clássico do cinema que toda a gente adora e contratar algumas estrelas para o apresentar a uma nova geração que nunca teve a oportunidade ver os originais. Pelo menos é essa a desculpa que usam para nos impingirem Planetas dos Macacos ou Psychos, que nunca deveriam ter sido tocados. Chegou mesmo a haver um rumor para um remake do Casablanca com Ben Affleck e Jennifer Lopez! É nesta categoria que se insere o já referido remake do Texas Chaninsaw Massacre que tive a infelicidade de vêr na edição deste ano do Fantasporto, ainda por cima precedido do original. Penso que este filme simboliza muitos dos meus problemas com remakes. Se por um lado é um filme novo e diferente do original, por outro é inevitável a comparação. O original era um filme especial, feito por um conjunto de amigos e com um "look" muito próprio que se assemelhava a um documentário. O remake, para além de não trazer nada de novo, trai por completo o espírito do original e tenta inpingir-nos uma moralidade e algumas virtudes, completamente ausentes no original ou mesmo no início dos anos 70, altura em que o filme é passado. A minha pergunta é porque é que não pegaram no dinheiro que usaram para fazer este filme e não fizeram outro filme de terror que não tivesse nada a ver com o nome Texas Chainsaw Massacre?
A terceira e última categoria de remakes são, o que eu chamo, as dobragens mais caras do mundo. Este tipo de remakes pega num filme "estrangeiro", ou seja, falado em não-inglês, que tenha sido um grande sucesso no seu país de origem e que os executivos dos grandes estúdios pensem que vai agradar ao público americano e em vez de o legendarem, coisa que como toda a gente sabe os americanos não gostam de ler (como se vê com o recente filme de Mel Gibson, The Passion of the Christ, que está a ser um sucesso estrondoso, falado em aramaico e latim!) fazem o remake. Este é sem dúvida o mais desnecessário e ridiculo tipo de remake e não percebo como é que realizadores pelo qual eu até tenho algum respeito se metem neste tipo de filmes. Estou-me a lembrar de Christopher Nolan que a seguir ao genial Memento realiza como segunda obra o remake de Insomnia, um filme norueguês feito cinco anos antes. E por mais boa vontade e toques pessoais que Cameron Crowe imprimisse ao seu Vanilla Sky, não precisava de o fazer num remake do filme espanhol Abre los Ojos. Para não falar de Gore Verbinsky e do seu remake quase plano por plano do The Ring.
Enfim, claro que percebo a lógica financeira por trás de um projecto como um remake, mas penso que não existe nenhuma justificação artistica para ele ser feito, e o mais grave é que muitas vezes impede as pessoas de verem a obra original, na maioria das vezes superior ao remake, nascendo quase sempre de uma lógica meramente empresarial dos grandes estúdios de Hollywood ou de um passo relativamente seguro para um realizador sem idéias. Com isto não julgo que não possa existir um remake que me encha as medidas, e estou, por exemplo, curioso com o que Peter Jackson vai fazer da sua grande paixão por King Kong, mas à partida vou sempre de pé atrás e quase nunca me arrpendo.
«Paycheck»
Título Português: Pago para Esquecer Título Original: Paycheck País de Origem: EUA, 2003 Realizador: John Woo Argumento: Dean Georgaris, adaptado do conto de Philip K. Dick Elenco: Ben Affleck, Uma Thurman, Aaron Eckhart, Paul Giamatti, Joe Morton Fotografia: Larry Blanford e Jeffrey L. Kimball Música: John Powell, James McKee Smith e John Ashton Thomas Produção: Paramount Pictures, DreamWorks SKG Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Ficção Científica, Acção, Thriller Duração: 119 min Classificação Etária: M/12 | |
Paycheck é mais uma incursão de John Woo pelo blockbuster norte-americano. É, também, uma adaptação menor de um conto de Philip K. Dick - autor cujas obras constituem quase sem excepção fascinantes premissas para obras cinematográficas. Relembre-se Blade Runner, Total Recall ou Minority Report, para citar as mais interessantes.
Paycheck é um filme desequilibrado. Se por um lado, o filme de John Woo parte de uma premissa interessante, por outro, sofre de um argumento fraco e subdesenvolvido que não explora suficientemente o mecanismo narrativo do conto em que se inspira. Ao contrário do que acontece com Total Recall, por exemplo, ou com Memento – referência incontornável – em Paycheck a premissa parece não ser mais que isso mesmo: uma ideia, um ponto de partida. No filme de Woo, as potencialidades da abordagem a temas tão ricos como a memória e a amnésia são rapidamente esquecidas e aquilo que poderia ser utilizado para criar tensão e mistério – quem é como quem diz, envolver o espectador - é posto de parte, abrindo espaço para que o filme se transforme numa sequência de cenas de acção com um romance paralelo ao qual é dado demasiada importância.
Os actores seguem em automático e não convencem. Pior que ver Affleck como engenheiro informático, só mesmo constatar a sua expressão imutável durante todo o filme. Affleck apercebe-se que é (ou será) o responsável pelo apocalipse com a mesma naturalidade de quem enfrenta as banalidades do dia-a-dia. Thurman também não convence como a bióloga segura e independente que sucumbe aos encantos de Affleck e chega mesmo a passar despercebida. Bem mais interessantes os desempenhos de Aaron Eckhart ou Joe Morton ainda que em papéis convencionais a tender para o estereótipo.
Não é um sacrifício ver Paycheck, no entanto. As duas horas de filme entretêm, ainda que o produto final não seja satisfatório. Não há momentos mortos, mas outra coisa também não seria de esperar de um realizador como John Woo. E para os fãs, estão presentes as suas imagens de marca: a câmara lenta, as pombas brancas, os impasses com duas personagens a apontarem armas simultaneamente.
Ainda que Paycheck não contorne convenientemente os paradoxos inerentes aos filmes que lidam com mecanismos de viagem no tempo ou previsão do futuro, apresentando mesmo incongruências de argumento, não é por aí que o filme falha. O filme falha porque sabe a pouco; porque desilude; porque sabemos que é um filme baseado em material de Philip K. Dick. E a partir da primeira hora deixa de parecer.
Classificação: 5/10
março 10, 2004
«The School of Rock»
Título Português: Escola de Rock Título Original: The School of Rock País de Origem: EUA, 2003 Realizador: Richard Linklater Argumento: Mike White Elenco: Jack Black, Mike White, Joan Cusack Fotografia: Rogier Stoffers Música: Craig Wedren Produção: Paramount Pictures/Scott Rudin Productions Distribuição Nacional: Lusomundo Género: Comédia Duração: 108 min Classificação Etária: M/6 | |
Desde a sua estreia, The School of Rock tem recebido opiniões francamente positivas quer por parte do público, quer por parte da crítica. Honestamente, o fenómeno passa-me um pouco ao lado. Talvez por não ser o maior fã de Jack Black; talvez por não me reconhecer particularmente no estilo rock 'n' roll.
O filme de Linklater é o veículo ideal para o exuberante e expressivo Jack Black, ele próprio membro da banda de culto "Tenacious D". Black, igual a si próprio, de tão enérgico que toca o psicótico, encarna o papel de um músico falhado que, com uma motivação inicial meramente financeira, faz-se passar por professor substituto de uma escola primária e acaba por se descobrir como orientador do interesse e potencial musical dos jovens alunos.
Pela forma como se apresenta, o filme assemelha-se a algo como o tradicional filme de família mas com uma abordagem independente, ou não tivesse sido Linklater um importante propulsionador do cinema independente americano no início da década de 90. Se por vezes o filme é (ou tenta ser) politicamente incorrecto, por outro, é previsível e convencional. Como se Linklater estivesse restringido às limitações de um produto final destinado a crianças.
Repleto de referências musicais, dos Led Zeppelin a Stevie Nicks, The School of Rock é, claramente, uma obra pessoal e revivalista de toda uma (sub)cultura musical. E é neste processo de relembrar, partilhar e dar algo a conhecer aos mais novos que reconheço a mais valia deste filme. Ainda que muitas vezes a abordagem às situações seja estereotipada e as personagens acessórias (como por exemplo, os pais das crianças) rocem o bacoco, encontro o poder de The School of Rock na mensagem de que a escola e os professores devem ter, desde cedo, um papel de estimulação nos alunos, e não apenas de (in)formação. Idealmente, a escola enquanto instituição deverá confrontar os alunos com referências e experiências de modo a potenciar o desenvolvimento dos mesmos para além dos programas académicos. E isto está presente no filme Linklater. Através do convívio com Jack Black e na sequência dos estímulos que o mesmo provoca, os alunos acabam por se definir ao interessarem-se por áreas tão díspares como a música, a iluminação, o estilismo, as relações públicas ou mesmo a vertente economicista.
Ainda que assumidamente uma comédia, o filme não é hilariante; é mais ternurento. E como produto final é pouco mais que um filme revivalista de um género musical, francamente sustentado pela irreverência e energia de Jack Black e pela inocência de um grupo de jovens crianças, ansiosas por se descobrirem a si mesmas.
Classificação: 7/10
março 09, 2004
Quem somos?
Não gostamos particularmente de blogs, mas neste formato encontramos a facilidade de fazer algo que nos fascina e que temos feito, de uma forma ou de outra, em variados suportes ao longo do tempo: escrever sobre cinema, de forma despretensiosa. Não nos consideramos críticos. Escrevemos com paixão e gostamos de reflectir sobre as imagens que vemos. Tentamos ser honestos e não ser redutores. Afinal, conhecemos também o peso da crítica sobre o resultado do processo criativo. Ficam então as deambulações; sobre os filmes, sobre a indústria, sobre o mercado...