maio 31, 2004

«Eternal Sunshine of the Spotless Mind»

E, de repente, todos se lembraram que a memória é um tema fascinante para ser abordado no cinema...

maio 30, 2004

Pensamento do dia

"Now, if you'll excuse me, I'm going to go home and have a heart attack." - Vicent Vega (John Travolta) em Pulp Fiction

maio 23, 2004

Box Office norte-americano (fim-de-semana 21 a 23 Maio) (valores estimados)

Shrek 2 entrou para a primeira posição da tabela do box office norte-americano com receitas impressionantes na ordem dos $104.3M - em três dias apenas. O feito representa a segunda estreia mais significativa de sempre em termos bilheteira, a seguir aos $114.8M gerados em 2002 por Spider-Man de Sam Raimi. Shrek 2 destaca-se ainda como tendo tido o melhor fim-de-semana de estreia de um filme animado, ultrapassando em larga medida os $70.2M que o prolífico Finding Nemo gerou. De salientar ainda que as receitas de Shrek 2, nos três dias de abertura, foram cerca de 123% superiores às receitas de Shrek, pela mesma altura.

maio 21, 2004

Pensamento do dia

"I believe in America. America has made my fortune." - Bonasera (Salvatore Corsitto) em The Godfather

maio 17, 2004

Dreamworks vs. Pixar


Já disponíveis aqui e aqui os trailers das mais recentes produções de animação da Dreamworks e da Pixar, Shark Tale e The Incredibles, respectivamente. Shark Tale, com estreia anunciada para 1 de Outubro, conta com as vozes de Will Smith, Robert De Niro, Renée Zellwegger, Jack Black, Martin Scorsese e Angelina Jolie. The Incredibles estreará a 5 de Novembro, com Craig T. Nelson, Samuel L. Jackson, Holly Hunter e Jason Lee a dar vida às personagens. Imperdíveis, os trailers.

Pensamento do dia

"If you put your mind to it, you can accomplish anything." - Marty McFly (Michael J. Fox) em Back to the Future

maio 16, 2004

Box Office norte-americano (fim-de-semana 14 a 16 Maio) (valores estimados)

Troy, o épico de Wolfgang Petersen com Brad Pitt, Eric Bana e Orlando Bloom, estreou com uma entrada directa para o topo da tabela do box office norte-americano com receitas na ordem dos $45.6M. Para a quarta posição da tabela entrou Breakin' All the Rules, comédia romântica com Jamie Foxx e Gabrielle Union, sobre um homem que, tendo sido deixado pela noiva, encontra a fama como autor de um livro de auto-ajuda sobre separações. O filme de Daniel Taplitz gerou receitas na ordem dos $5.3M.

maio 15, 2004

10 Bandas Sonoras essenciais...

...entre muitas outras.

1 - A Clockwork Orange
2 - Leaving Las Vegas
3 - Lost Highway
4 - Once Upon a Time in America
5 - Out of Africa
6 - The Cook the Thief His Wife & Her Lover
7 - The Hudsucker Proxy
8 - The Thin Red Line
9 - The Virgin Suicides
10 -Twin Peaks

Pensamento do dia

"You smell that? Do you smell that?... Napalm, son. Nothing else in the world smells like that. I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for twelve hours. When it was all over I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like... victory. Someday this war's gonna end..." - Kilgore (Robert Duvall) em Apocalypse Now

maio 12, 2004

A arte de produzir um DVD - Parte II

Está já disponível na The Digital Bits a segunda parte do diário de produção que David Prior - o mesmo que produziu a edição DVD de Fight Club - foi mantendo enquanto produzia a edição especial de Panic Room. Um texto a não perder, para quem acredita que o DVD é mais que um mero suporte digital.

maio 11, 2004

Before Sunset - "Desculpe!? Importa-se de repetir?"

Quando ouvi falar em Before Sunset - suposta sequela do belo e intocável Before Sunrise - não quis acreditar. Realizado em 1995 por Richard Linklater, Before Sunrise é um filme perfeito que se constrói unicamente em torno da química entre Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), de diálogos elaborados e da deslumbrante cidade de Viena como pano de fundo. Before Sunrise é um clássico dos tempos modernos; o paradigma do filme romântico para uma geração de vinte-e-qualquer-coisa anos. O final, em aberto, era tão belo quanto angustiante: os dois amantes escolhiam a separação.

Before Sunset, também de Linklater e com Hawke e Delpy novamente, tem como premissa o reencontro entre Jesse e Celine, nove anos depois, agora em Paris. Espera-se o pior nesta sequela impossível. Ou talvez não… É que a julgar pelo trailer, disponível aqui, o filme promete. Linklater parece permanecer fiel ao tom de Before Sunrise. Os diálogos parecem cuidados, a química entre Jesse e Celine parece continuar presente… e Paris é a cidade dos amantes, por excelência.

Filmado em apenas 15 dias com um reduzido orçamento de $10,000,000, Before Sunset não indicia ser um produto da ganância dos estúdios, na senda da fácil rentabilização de sequelas. Parece antes que Linklater teve vontade de brindar o seu público com um reencontro entre Jesse e Celine, tão adoradas personagens. Mas fazer uma sequela de Before Sunrise é um exercício arriscado. Esperemos que o presente não esteja envenenado.

Algumas palavras sobre «The Dreamers»


The Dreamers assinala o regresso de Bernardo Bertolucci ao grande ecrã. O filme, ousado, chega-nos envolto em controvérsia pelo carácter explícito da temática sexual - o primeiro filme em 6 anos a receber a classificação etária NC17 nos Estados Unidos (país que também co-produziu). Paris, Maio de 68; um solitário estudante americano (Michael Pitt) estabelece amizade com dois irmãos (Eva Green e Louis Garrel) através dos movimentos cinéfilos que giram em torno da Cinemateca de Paris. A paixão pelo cinema que os une inicialmente transforma-se na paixão que nutrem uns pelos outros, à medida que aumenta o envolvimento sexual potenciado por jogos e descobertas. O filme de Bertolucci é interessante mas desequilibrado, longe de atingir a sublimação ou qualquer coisa parecida. The Dreamers começa como uma homenagem esplendorosa ao universo da 7ª arte, evolui para uma crua e inquietante abordagem ao relacionamento sexual entre três jovens e acaba num registo socio-político que não esconde a importância histórica dos factos retratados. O trio de jovens actores, sem ser notável, tem mérito reconhecido dada a complexidade de algumas cenas e consegue evocar com eficácia o medo, a sensualidade, o investimento em sonhos e ideologias de toda uma geração. The Dreamers poderia encontrar o seu chavão em "sexo, filmes e rock 'n' roll, no Maio de 68". Mas se, por um lado, o rock é quase um elemento figurativo para a história que está a ser contada e a abordagem ao Maio de 68 é superficial e acessória, por outro, as potencialidades da temática sexual são traídas por uma construção narrativa em que o incesto é ponto fulcral. Resta então a homenagem que Bertolucci presta ao cinema e aos cinéfilos, de forma curiosa e apaixonada, note-se, mas insuficiente como produto final.

Classificação: 6/10

Scorsese com edições especiais


Boas notícias para os fãs de Martin Scorsese: a Warner Bros. anunciou finalmente a data de lançamento da edição especial de dois discos do épico sobre a máfia GoodFellas, com Robert De Niro, Ray Liotta e Joe Pesci. O DVD estará à venda a 17 Agosto e contém dois comentários áudio: um com Scorsese e elementos do elenco e da equipa; outro com o ex-gangster Henry Hill, que inspirou o livro de Nicholas Pileggi no qual o filme se baseia, e com o ex-agente do FBI Edward McDonald. A edição anamórfica, com som Dolby Digital 5.1, conta ainda com quatro making-of e trailer.

Mas as boas notícias não ficam por aqui. Serão também lançadas em simultâneo edições especiais de Mean Streets, After Hours, Alice Doesn't Live Here Anymore e Who's That Knocking at My Door? - todas com comentário áudio de Martin Scorsese. Esperam-se, portanto, longas horas de dissertações sobre a 7ª arte por um realizador de importância incontestável e cuja paixão pelo cinema é sobejamente conhecida.

Pensamento do dia

"You don't make up for your sins in church. You do it in the streets. You do it at home. The rest is bullshit and you know it." - Charlie (Harvey Keitel) em Mean Streets

maio 10, 2004

«25th Hour» - redenção no séc. XXI


Tobey Maguire adquiriu os direitos do romance de David Benioff sobre as últimas 24 horas em liberdade de um traficante de droga mas coube a Spike Lee realizar, segundo argumento do próprio Benioff. O elenco é notável, constituído por Edward Norton, Philip Seymour Hoffman, Barry Pepper, Rosario Dawson, Anna Paquin e Brian Cox. 25th Hour foi um dos primeiros filmes a retratar uma Nova Iorque pós-11 de Setembro. Activista convicto, Lee não evita planos de bandeiras americanas e rufar de tambores, palavras de raiva contra Bin Laden ou cenários adjacentes ao Ground Zero. Mas 25th Hour consegue ir mais além ao mostrar uma América subtilmente soturna, naturalmente abalada, e evocar uma poderosa mensagem de esperança que encontra a sua apoteose na arriscada cena final que, ao primeiro impacto, parece despropositada e absurda. Mas não é. Oferece-nos palavras e imagens de esperança, numa história trágica sobre a procura desesperada de redenção; de uma redenção impossível, porque não se pode mudar uma vida - definida por anos de escolhas e opções - em 24 horas apenas. Um filme maturo do realizador de Do the Right Thing, Malcolm X e Clockers, sempre agradável de rever.

Box Office norte-americano (fim-de-semana 7 a 9 Maio) (valores estimados)

Van Helsing, o mais recente filme de Stephen Sommers com Hugh Jackman e Kate Beckinsale, não se ressentiu de uma generalizada opinião crítica negativa e assegurou a entrada para a primeira posição da tabela do box office norte-americano com impressionantes receitas na ordem dos $54.2M - ainda que aquém dos $170M de orçamento. A comédia New York Minute, da Warner Bros., entrou para a quarta posição da tabela com receitas de $6.2M, sendo que a opinião da crítica norte-americana em relação ao filme foi ainda mais arrasadora do que a relativa a Van Helsing.

maio 09, 2004

Pensamento do dia

"I think everything must go back to the fact that I had a very anxious childhood. You know, my--my mother never had time for me. You know, when you're--when you're the middle child in a family of five million, you don't get any attention." - Z (Woody Allen) em Antz

maio 07, 2004

Algumas palavras sobre «Van Helsing»


A avaliar pelo trailer, eram poucas as expectativas em relação ao tão aguardado Van Helsing de Stephen Sommers. Apesar da temática do filme não ser para mim das mais sedutoras, não seria difícil dar uma oportunidade a Van Helsing, ou não fosse o filme escrito e realizado pelo autor de The Mummy e The Mummy Returns - filmes que considero agradáveis dentro da lógica em que se inserem. Van Helsing é decepcionante e cansativo. Partindo de uma premissa interessante, o filme estabelece-se imediatamente como aquilo que vem a tornar-se numa cena de acção de 2 horas. Tudo é estridente, rápido, destrutivo, sem altos e baixos, apenas com altos. Não existe história propriamente dita; são introduzidos os universos de Frankenstein, dos lobisomens, de Drácula, cabendo aos diálogos anacrónicos e a simples frases feitas unificarem a narrativa. Não funciona. Tudo é demasiado cool, num filme que se esperava um pouco mais sombrio. O género do filme nunca é bem definido; passa pela comédia, pelo terror, pela fantasia, pela acção, pela aventura, numa miscelânea que nunca encontra um estilo próprio. Os efeitos especiais abundam, do bom (mattes bem conseguidos) ao realmente fraco (cgi denunciado), e nem Hugh Jackman ou Kate Beckinsale conseguem marcar a diferença. Van Helsing é uma experiência esgotante, em que mesmo de cérebro desligado cedo começamos a recusar aquilo que nos está a ser oferecido.

Classificação: 4/10

maio 05, 2004

Algumas palavras sobre «Teknolust»


Recém chegado do Fantasporto, Teknolust - que amanhã estreia - é um filme de ficção científica filmado em vídeo de alta-definição por Lynn Hershman-Leeson; é também, seguramente, um dos filmes mais fracos que estrearão este ano. Tilda Swinton (The Beach, Adaptation), Jeremy Davies (The Million Dollar Hotel, Dogville) e James Urbaniak (American Splendor) dão vida às personagens principais deste produto híbrido que aborda superficialmente temas como a genética, a clonagem e a inteligência artificial. Não existe uma premissa forte e o argumento claramente subdesenvolvido reflecte-se numa total falta de ritmo cinematográfico. Qualquer dos assuntos aqui abordados - cyborgs a pôr em causa a sua condição de máquinas; humanos a apaixonarem-se por cyborgs; os perigos da manipulação genética e da clonagem - já foram debatidos noutros filmes de forma mais pertinente. Como o seu título indicia, Teknolust é desprovido de qualquer conteúdo, cingindo-se apenas à exploração do estilo, dos cenários pseudo-futuristas, de um léxico informático absurdo. O tratamento cromático do filme, bem como algum trabalho das equipas de maquilhagem e guarda-roupa evitam que o filme seja um desastre total, mas nem a presença de Tilda Swinton em quatro papéis distintos consegue afastar Teknolust da mediocridade. A esquecer.

Classificação: 3/10

maio 04, 2004

«The Rules of Attraction» - grande lição de cinema


Gosto particularmente de The Rules of Attraction - adaptação ao cinema, por Roger Avary, do arrojado romance de Bret Easton Ellis (Less Than Zero, American Psycho) sobre um triângulo sexual numa Universidade de New England, com muito sexo, drogas e álcool. James Van Der Beek, Shannyn Sossamon, Kip Pardue, Jessical Biel, Ian Somerhalder e Clifton Collins Jr. são alguns dos nomes que compõem um elenco sem falhas, sem que haja necessidade de estrelas. O olhar satírico de Bret Easton Ellis encontra uma abordagem fascinante pelas mãos de Avary - amigo de Tarantino e co-autor de Pulp Fiction. Além da realização irrepreensível, o filme é enriquecido pela fantástica selecção musical, pelo cuidado tratamento sonoro e pela exímia montagem de Sharon Rutter, revelando-se um exercício apaixonado pela 7ª arte. Algumas cenas para recordar: o pré-genérico de 15 minutos em reverse; a sequência em split-screen do encontro entre Sean e Lauren; a constrangedora cena do suicídio na banheira; a viagem de Victor, em quatro minutos, por toda a Europa; o floco de neve que se transforma numa lágrima no canto do olho de Sean. O filme irradia cinema, desde a construção narrativa até à montagem final. De lamentar apenas que no comentário áudio do DVD, Roger Avary tenha uma intervenção sucinta de 10 minutos, pois muito havia a dizer.

Pensamento do dia

"Sure, Kill Bill's a violent movie. But it's a Tarantino movie. You don't go to see Metallica and ask the fuckers to turn the music down" - Quentin Tarantino, acerca das críticas à violência dos seus filmes

maio 03, 2004

O poder político do blockbuster norte-americano

The Day After Tomorrow, o mais recente blockbuster de Roland Emmerich (Independence Day) com Dennis Quaid, Jake Gyllenhaal, e Ian Holm, entre outros, ainda não estreou e já está a provocar polémica. O filme apocalíptico de orçamento elevado e rico em efeitos visuais explora as consequências extremas do efeito de estufa: o degelo das calotas polares e as catastróficas alterações climatéricas. Receia-se que o filme - a estrear nos Estados Unidos no dia 28 de Maio - possa acentuar a atitude crítica do público perante a Administração Bush, e a NASA já proibiu mesmo os seus funcionários de comentar o filme de Emmerich bem como os acontecimentos nele retratados.

Box Office norte-americano (fim-de-semana 30 Abril a 2 Maio)

A comédia romântica Mean Girls, com a jovem promissora Lindsay Lohan, entrou para o primeiro lugar da tabela do box office norte-americano com receitas na ordem dos $24.4M. Godsend, o thriller de Nick Hamm com Robert De Niro, Greg Kinnear e Rebecca Romijn-Stamos, assegurou uma quarta posição na tabela com receitas de $6.8M. Para a quinta posição entrou outra comédia romântica, Laws of Attraction - o mais recente filme de Peter Howitt, com Pierce Brosnan e Julianne Moore - com receitas de $6.7M. Envy, a comédia da Dreamworks realizada pelo veterano Barry Levinson, com Ben Stiller e Jack Black nos principais papéis, entrou para a sexta posição da tabela com receitas na ordem dos $6.1M.

maio 01, 2004

corta!

Porque iniciativas destas são meritórias e fazem falta, fica aqui uma referência especial ao corta! - Festival Internacional de Curtas Metragens do Porto - a decorrer no Palácio de Cristal entre 27 e 29 de Maio. Workshops e muitas curtas prometem animar os três dias do festival.

«Kill Bill: Vol. 2»



Título Português: Kill Bill - A Vingança - Vol. 2
Título Original: Kill Bill: Vol. 2
País de Origem: EUA, 2004
Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Uma Thurman, David Carradine, Michael Madsen, Daryl Hannah, Chia Hui Liu, Michael Parks, Bo Svenson
Fotografia: Robert Richardson
Música: Johnny Cash, RZA, Robert Rodriguez
Produção: A Band Apart
Distribuição Nacional: Castello Lopes
Género: Acção, Thriller, Drama
Duração: 136 min
Classificação Etária: M/16

Kill Bill: Vol. 1 estreou e transformou-se imediatamente num fenómeno de culto, ou não fosse Quentin Tarantino um realizador de culto por excelência. Passado um interregno de seis meses, Tarantino apresentou Kill Bill: Vol. 2 e, claro está, o fenómeno de culto atingiu dimensões épicas. Partilho a opinião de que os filmes de Tarantino se tornam mais e mais gostáveis com o passar do tempo e com sucessivos visionamentos. A explicação é algo natural: os filmes são riquíssimos, tanto na forma como no conteúdo; há, nos filmes de Tarantino, sempre qualquer coisa nova para descobrir, para admirar, para reconhecer.

Confesso-me fã de Tarantino e de Kill Bill: Vol. 1, mas admito também que tanto Reservoir Dogs ou Pulp Fiction são, para mim, obras superiores. Acredito, no entanto, que o tempo transformará Kill Bill num marco seminal da história do cinema e da curta mas expressiva carreira de Tarantino. Há demasiado em Kill Bill para que o filme fique confinado à nossa apreciação depois de ser visto na escuridão da sala de cinema. Tarantino não realizou apenas um filme (ou dois, neste caso); Tarantino criou todo um universo, rico em personagens, e deu-lhe uma abordagem épica, conferindo a The Bride contornos de super-herói. É, pois, compreensível, que haja já quem considere Kill Bill a melhor adaptação do cinema de uma banda-desenhada (inexistente).

Centremo-nos em Kill Bill: Vol. 2, que agora estreou. Muito haveria a dizer acerca da génese e materialização de Kill Bill enquanto produto cinematográfico sujeito a uma lógica comercial de distribuição. O que seria inicialmente um filme transformou-se em dois. Ou será que se trata apenas de um filme apresentado em duas partes? Os dois volumes podem ser analisados individualmente ou apenas como um todo? O assunto é fértil em debates que, em última análise, se poderão reduzir a meras questões semânticas ou filosóficas. Reconheçamos, porém, que se um Kill Bill com 4 horas de duração seria excessivo, eventualmente cansativo, o desdobramento de Kill Bill em dois filmes não esconde interesses comerciais e uma lógica de marketing e auto-promoção poderosa.

Considero Kill Bill a soma de dois filmes distintos, que se completam e se complementam. Se o volume 1 é um filme de acção e artes marciais, o volume 2 é um melodrama. Os dois filmes conseguem subsistir individualmente, mas é em conjunto que atingem toda a sua grandiosidade. A dimensão épica de Kill Bill é alcançada no momento em que o volume 2 termina, depois de termos visto o volume 1. Preferir um dos volumes em detrimento do outro é uma tarefa ingrata, pois estamos a comparar o incomparável. Mas se tal exercício fosse possível, diria que o volume 2 é um filme mais completo, logo melhor.

Kill Bill: Vol. 2 afasta-se do delírio extravagante de sangue e lutas de Kill Bill: Vol. 1. As carências narrativas do primeiro volume são compensadas em larga escala no segundo volume, no qual o desenvolvimento narrativo é profundo, lento, com monólogos abundantes e, novamente, diálogos incisivos. A calma e a sobriedade de realização imperam em Kill Bill: Vol. 2, um pouco à semelhança do que havia acontecido em Jackie Brown. Kill Bill poderia facilmente chamar-se Once Upon a Time The Bride, pois estamos perante uma obstinada e interminável saga de uma personagem em busca da sua vingança. A premissa de Kill Bill não poderia ser mais simples, e é curioso verificar como do simples se elabora o complexo - através de boas ideias, de diálogos bens escritos, de personagens idiossincráticas, de um fio narrativo que se vai ramificando até aos limites de todo um universo perfeitamente claro e definido na cabeça de Tarantino.

Com Kill Bill, Tarantino revela-se novamente um realizador virtuoso que não só domina a técnica como conhece e trabalha qualquer género cinematográfico. Kill Bill tem acção, artes marciais, animação, drama, comédia, romance e até terror. Brilhante a direcção da sequência do enterro no segmento The Lonely Grave of Paula Schultz - um momento de puro cinema. Tarantino faz pelo terror, em poucos minutos, aquilo que muitos realizadores não conseguem fazer em filmes de terror de hora e meia. Mas não é só nessa cena que Tarantino demonstra compreender o cinema enquanto meio de comunicação. Tudo é atmosférico e provocador em Kill Bill. Tarantino choca, comove, ilude e estimula o espectador. Com alguma genialidade, diga-se. Tudo tem a devida importância para Tarantino, seja a escolha e direcção de actores, a fotografia, o elaborado tratamento sonoro ou a selecção musical dos temas de fundo.

Tal como o primeiro volume, também Kill Bill: Vol. 2 é um deleite para cinéfilos, com inúmeras referências a outros filmes. As referências vão além dos géneros e dos filmes a que Tarantino pretende prestar a maior homenagem, sejam os filmes asiáticos ou os westerns em geral; há em Kill Bill referências a filmes escritos ou realizados pelo próprio Tarantino. Não como um exercício egocêntrico, mas antes como quem sabe que o universo de Kill Bill é apenas uma parte de todo um universo mais lato. Dificilmente quem gosta de filmes ou de cinema não gostará de Kill Bill; pois Kill Bill é cinema.

Classificação: 9/10