maio 11, 2004

Algumas palavras sobre «The Dreamers»


The Dreamers assinala o regresso de Bernardo Bertolucci ao grande ecrã. O filme, ousado, chega-nos envolto em controvérsia pelo carácter explícito da temática sexual - o primeiro filme em 6 anos a receber a classificação etária NC17 nos Estados Unidos (país que também co-produziu). Paris, Maio de 68; um solitário estudante americano (Michael Pitt) estabelece amizade com dois irmãos (Eva Green e Louis Garrel) através dos movimentos cinéfilos que giram em torno da Cinemateca de Paris. A paixão pelo cinema que os une inicialmente transforma-se na paixão que nutrem uns pelos outros, à medida que aumenta o envolvimento sexual potenciado por jogos e descobertas. O filme de Bertolucci é interessante mas desequilibrado, longe de atingir a sublimação ou qualquer coisa parecida. The Dreamers começa como uma homenagem esplendorosa ao universo da 7ª arte, evolui para uma crua e inquietante abordagem ao relacionamento sexual entre três jovens e acaba num registo socio-político que não esconde a importância histórica dos factos retratados. O trio de jovens actores, sem ser notável, tem mérito reconhecido dada a complexidade de algumas cenas e consegue evocar com eficácia o medo, a sensualidade, o investimento em sonhos e ideologias de toda uma geração. The Dreamers poderia encontrar o seu chavão em "sexo, filmes e rock 'n' roll, no Maio de 68". Mas se, por um lado, o rock é quase um elemento figurativo para a história que está a ser contada e a abordagem ao Maio de 68 é superficial e acessória, por outro, as potencialidades da temática sexual são traídas por uma construção narrativa em que o incesto é ponto fulcral. Resta então a homenagem que Bertolucci presta ao cinema e aos cinéfilos, de forma curiosa e apaixonada, note-se, mas insuficiente como produto final.

Classificação: 6/10