março 12, 2004

«Paycheck»



Título Português: Pago para Esquecer
Título Original: Paycheck
País de Origem: EUA, 2003
Realizador: John Woo
Argumento: Dean Georgaris, adaptado do conto de Philip K. Dick
Elenco: Ben Affleck, Uma Thurman, Aaron Eckhart, Paul Giamatti, Joe Morton
Fotografia: Larry Blanford e Jeffrey L. Kimball
Música: John Powell, James McKee Smith e John Ashton Thomas
Produção: Paramount Pictures, DreamWorks SKG
Distribuição Nacional:  Lusomundo
Género: Ficção Científica, Acção, Thriller
Duração: 119 min
Classificação Etária: M/12

Paycheck é mais uma incursão de John Woo pelo blockbuster norte-americano. É, também, uma adaptação menor de um conto de Philip K. Dick - autor cujas obras constituem quase sem excepção fascinantes premissas para obras cinematográficas. Relembre-se Blade Runner, Total Recall ou Minority Report, para citar as mais interessantes.

Paycheck é um filme desequilibrado. Se por um lado, o filme de John Woo parte de uma premissa interessante, por outro, sofre de um argumento fraco e subdesenvolvido que não explora suficientemente o mecanismo narrativo do conto em que se inspira. Ao contrário do que acontece com Total Recall, por exemplo, ou com Memento – referência incontornável – em Paycheck a premissa parece não ser mais que isso mesmo: uma ideia, um ponto de partida. No filme de Woo, as potencialidades da abordagem a temas tão ricos como a memória e a amnésia são rapidamente esquecidas e aquilo que poderia ser utilizado para criar tensão e mistério – quem é como quem diz, envolver o espectador - é posto de parte, abrindo espaço para que o filme se transforme numa sequência de cenas de acção com um romance paralelo ao qual é dado demasiada importância.

Os actores seguem em automático e não convencem. Pior que ver Affleck como engenheiro informático, só mesmo constatar a sua expressão imutável durante todo o filme. Affleck apercebe-se que é (ou será) o responsável pelo apocalipse com a mesma naturalidade de quem enfrenta as banalidades do dia-a-dia. Thurman também não convence como a bióloga segura e independente que sucumbe aos encantos de Affleck e chega mesmo a passar despercebida. Bem mais interessantes os desempenhos de Aaron Eckhart ou Joe Morton ainda que em papéis convencionais a tender para o estereótipo.

Não é um sacrifício ver Paycheck, no entanto. As duas horas de filme entretêm, ainda que o produto final não seja satisfatório. Não há momentos mortos, mas outra coisa também não seria de esperar de um realizador como John Woo. E para os fãs, estão presentes as suas imagens de marca: a câmara lenta, as pombas brancas, os impasses com duas personagens a apontarem armas simultaneamente.

Ainda que Paycheck não contorne convenientemente os paradoxos inerentes aos filmes que lidam com mecanismos de viagem no tempo ou previsão do futuro, apresentando mesmo incongruências de argumento, não é por aí que o filme falha. O filme falha porque sabe a pouco; porque desilude; porque sabemos que é um filme baseado em material de Philip K. Dick. E a partir da primeira hora deixa de parecer.

Classificação: 5/10