março 12, 2004

Remakes - Falta de ideias ou uma nova visão?


Por Fred.

Já há algum tempo que ando a pensar fazer um texto sobre remakes. Aproveito a iminente estreia do remake do Texas Chainsaw Massacre para reflectir sobre o assunto. Para começar tenho uma confissão a fazer:

ODEIO REMAKES!

Mas esta afirmação é demasiado simplista e generalista para ter alguma validade. Vou tentar analisar o que leva muitos cineastas de renome a aventurarem-se pelo mundo dos remakes, com a simples desculpa de ser uma nova visão.

Muitas pessoas ainda não repararam, mas existem vários tipos de remakes. Existem os remakes que eu considero irrelevantes, geralmente comédias, onde pegam em filmes que não são muito conhecidos ou tiveram um moderado sucesso na sua época e espetam-lhes uma estrela. tipo Steve Martin ou Eddie Murphy e remodelam-nos para um novo público nascendo assim os Dr. Doolitles, Cheaper by the Dozens ou Father of the Brides deste mundo. Estes remakes não me interessam, mas penso que são os mais inofensivos pela sua despretensiosidade e pela falta de qualidade dos originais.

A seguir existem os remakes mais sérios, onde os grandes estudios pensam que é uma boa ideia pegar num clássico do cinema que toda a gente adora e contratar algumas estrelas para o apresentar a uma nova geração que nunca teve a oportunidade ver os originais. Pelo menos é essa a desculpa que usam para nos impingirem Planetas dos Macacos ou Psychos, que nunca deveriam ter sido tocados. Chegou mesmo a haver um rumor para um remake do Casablanca com Ben Affleck e Jennifer Lopez! É nesta categoria que se insere o já referido remake do Texas Chaninsaw Massacre que tive a infelicidade de vêr na edição deste ano do Fantasporto, ainda por cima precedido do original. Penso que este filme simboliza muitos dos meus problemas com remakes. Se por um lado é um filme novo e diferente do original, por outro é inevitável a comparação. O original era um filme especial, feito por um conjunto de amigos e com um "look" muito próprio que se assemelhava a um documentário. O remake, para além de não trazer nada de novo, trai por completo o espírito do original e tenta inpingir-nos uma moralidade e algumas virtudes, completamente ausentes no original ou mesmo no início dos anos 70, altura em que o filme é passado. A minha pergunta é porque é que não pegaram no dinheiro que usaram para fazer este filme e não fizeram outro filme de terror que não tivesse nada a ver com o nome Texas Chainsaw Massacre?

A terceira e última categoria de remakes são, o que eu chamo, as dobragens mais caras do mundo. Este tipo de remakes pega num filme "estrangeiro", ou seja, falado em não-inglês, que tenha sido um grande sucesso no seu país de origem e que os executivos dos grandes estúdios pensem que vai agradar ao público americano e em vez de o legendarem, coisa que como toda a gente sabe os americanos não gostam de ler (como se vê com o recente filme de Mel Gibson, The Passion of the Christ, que está a ser um sucesso estrondoso, falado em aramaico e latim!) fazem o remake. Este é sem dúvida o mais desnecessário e ridiculo tipo de remake e não percebo como é que realizadores pelo qual eu até tenho algum respeito se metem neste tipo de filmes. Estou-me a lembrar de Christopher Nolan que a seguir ao genial Memento realiza como segunda obra o remake de Insomnia, um filme norueguês feito cinco anos antes. E por mais boa vontade e toques pessoais que Cameron Crowe imprimisse ao seu Vanilla Sky, não precisava de o fazer num remake do filme espanhol Abre los Ojos. Para não falar de Gore Verbinsky e do seu remake quase plano por plano do The Ring.

Enfim, claro que percebo a lógica financeira por trás de um projecto como um remake, mas penso que não existe nenhuma justificação artistica para ele ser feito, e o mais grave é que muitas vezes impede as pessoas de verem a obra original, na maioria das vezes superior ao remake, nascendo quase sempre de uma lógica meramente empresarial dos grandes estúdios de Hollywood ou de um passo relativamente seguro para um realizador sem idéias. Com isto não julgo que não possa existir um remake que me encha as medidas, e estou, por exemplo, curioso com o que Peter Jackson vai fazer da sua grande paixão por King Kong, mas à partida vou sempre de pé atrás e quase nunca me arrpendo.