abril 11, 2004

«The Cat in the Hat»



Título Português: O Gato
Título Original: The Cat in the Hat
País de Origem: EUA, 2003
Realizador: Bo Welch
Argumento: Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer, baseado no livro de Dr. Seuss
Elenco: Mike Meyers, Alec Baldwin, Kelly Preston, Dakota Fanning e Spencer Breslin
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Música: David Newman
Produção: Universal Pictures, Dreamworks, Imagine Entertainment
Distribuição Nacional: Lusomundo
Género: Comédia, Fantasia
Duração: 78 min
Classificação Etária: M/6

Depois de Ron Howard ter adaptado, em 2000, How the Grinch Stole Christmas, chega-nos agora a adaptação de mais um livro para crianças de Dr. Seuss, The Cat in the Hat. Bo Welch estreia-se na realização de longas-metragens com esta obra, mas conta já com um respeitável currículo como director artístico e production designer de filmes como Beetlejuice, Edward Scissorhands, Batman Returns ou Men in Black, para citar alguns dos mais interessantes.

Não é, pois, de estranhar que The Cat in the Cat seja um filme visualmente rico. Toda a composição artística e visual é exuberante e excêntrica, carregada de cores fortes e tons primários. Os efeitos visuais, que é como que diz, as imagens geradas por computador, abundam e conferem traços surrealistas aos quadros que Welch compõe durante os 80 minutos de filme - desde o início com as variantes animadas dos logotipos da Universal, da Dreamworks e da Imagine Entertainment até ao genérico final. O filme funciona, do ponto de vista estritamente visual.

O problema põe-se quando confrontamos o filme de Welch com a obra de Dr. Seuss, no seu conteúdo. A maré de críticas negativas que o filme de Welch recebeu aquando da sua estreia nos Estados Unidos veio fundamentalmente de pessoas que conheciam bem a obra de Dr. Seuss e, para quem esta adaptação ao cinema a desvirtuava por completo. Alheio à obra original, é-me, até certo ponto, fácil a entrega ao filme de Welch por um factor simples: a presença de Mike Meyers no papel do Gato.

Mas a presença de Meyers no filme é delicada e chega mesmo a ter um efeito contraproducente que, em última análise, transforma The Cat in the Hat num produto falhado. É que Meyers, aqui, está ainda dentro das suas personagens de Austin Powers, quer seja no papel do próprio Austin quer seja na do psicótico Dr. Evil. Meyers tem o maneirismo, o riso, a presença das personagens que tão habilmente explorou nos três filmes da série que parodia James Bond. É, pois, fácil para os fãs de Meyers gostar da representação histriónica, dos trocadilhos e do humor ao estilo de Austin Powers. É fácil esquecermo-nos que estamos a ver The Cat in the Hat e acreditarmos que estamos perante um quarto episódio da série Austin Powers, em que Meyers, além de Austin, de Dr. Evil, de Fat Bastard, interpreta mais uma personagem: um gato. Mas The Cat in the Hat é um filme infantil, baseado num livro para crianças, e sabemos que a representação de Meyers é demasiado complexa ou mesmo desadequada para um público jovem. Para o público a quem se destina, os trocadilhos, o humor auto-referencial, a denúncia do filme enquanto filme, tudo deveria ter sido deixado de fora.

Em última análise, The Cat in the Hat falha porque consegue subsistir apenas como veículo da comicidade de Mike Meyers. Funcionará dentro de certos parâmetros com os fãs de Austin Powers. Mas não nos podemos esquecer que estamos perante a adaptação de um dos mais importantes livros para crianças, que prima pela simplicidade do texto e pelo seu conteúdo. O texto no filme de Welch em nada é simples: o humor, as críticas, a ironia, os jogos de palavras, sucedem-se de forma rápida e constante. E se o filme é rico visualmente, é ao mesmo tempo desprovido de conteúdo emotivo, de calor humano, de qualquer grande lição digna de um filme para crianças.

Classificação: 4/10