abril 02, 2004

DVD para quê, afinal?

Diz quem já viu, que a recém lançada edição DVD região 1 de Panic Room de David Fincher é algo que não se via desde a luxuosa edição de Fight Club, há quatro anos atrás. A edição especial de Panic Room, com três discos, foi também produzida por David Prior (o mesmo da edição de Fight Club). Os extras são tantos e demonstram tão cuidada produção que facilmente transformam o DVD num pequeno curso de cinema - de destacar três comentários áudio e um making-of com uma hora de duração.

Numa altura em que abundam nas grandes superfícies comerciais edições nacionais de DVDs a preços suspeitos de tão baixos que são, em que os jornais e revistas "oferecem" aos leitores edições de má qualidade, e em que mesmo os lançamentos ditos normais pecam por uma geral falta de qualidade, quer relativamente à imagem e som, quer quanto à ausência de extras, é bom recordar que existe ainda quem veja o DVD como mais que um mero suporte digital.

Idealmente, a edição DVD de um filme deve enriquecer esse mesmo filme. Como? Logo à partida, assegurando que se mantém a qualidade vídeo e áudio da obra cinematográfica; ao contrário do que acontecia com o VHS, o DVD permite fazê-lo. Paradoxalmente, deparo-me de vez em quando com edições nacionais de DVDs de qualidade notoriamente inferior à de algumas edições VHS de coleccionador.

Num segundo plano, igualmente importante, o DVD deve ter conteúdos que valorizem o filme - os extras. Existem dois tipos distintos de extras: a) tudo aquilo que já existia como material de trabalho ou promocional, antes sequer de se pensar numa edição DVD, como trailers, notas de produção, fotografias de cena, storyboards; b) conteúdos produzidos especificamente para serem incluídos num lançamento DVD, como entrevistas estruturadas, um making-of mais elaborado, pequenos documentários, etc. E é neste segundo campo que uma edição aceitável se pode diferenciar tornando-se numa edição de qualidade superior.

Cingindo-me à nossa realidade, constato que quando a qualidade a nível de imagem ou som das edições nacionais não é suficientemente má, os conteúdos que existem nas edições-mãe vão sendo deixados de fora. Por questões financeiras, naturalmente. Existem excepções, como em tudo. Mas a regra parece ser outra. Quando muitas pessoas se regozijam por terem feito verdadeiros achados no hipermercado da zona - edições "especiais" com trailer e índice de cenas por apenas €11.99 - interrogo-me se não teremos a realidade que merecemos.