abril 04, 2004

«Stuck on You»



Título Português: Agarrado a Ti
Título Original: Stuck on You
País de Origem: EUA, 2003
Realizador: Bobby e Peter Farrelly
Argumento: Charles B. Wessler, Bennett Yellin, Bobby e Peter Farrelly
Elenco: Matt Damon, Greg Kinnear, Eva Mendes, Wen Yann Shih, Cher, Seymour Cassel
Fotografia: Daniel Mindel
Música: Michael Andrews
Produção: 20th Century Fox
Distribuição Nacional: LNK
Género: Comédia
Duração: 118 min
Classificação Etária: M/12

Não deixa de ser curioso que os irmãos Bobby e Peter Farrelly, que têm assinado os filmes em conjunto, tanto a nível de escrita como de realização, tenham escolhido para ponto de partida do seu mais recente filme, Stuck on You, o tema dos irmãos gémeos; aliás, mais do que gémeos, siameses. Depois de comédias loucas como Dumb & Dumber, Me, Myself & Irene ou There's Something About Mary, Stuck on You parece, logo à partida, uma incursão dos irmãos Farrelly por um estilo mais sério, mais sóbrio. Os gags visuais não proliferam, o humor físico é bastante mais contido que nas obras anteriores e o filme parece definir as situações de humor com meia-dúzia de trocadilhos, bem conseguidos, por sinal.

Os gémeos siameses são Matt Damon (Good Will Hunting, The Talented Mr. Ripley) e Greg Kinnear (As Good as It Gets, Nurse Betty), e o par não funciona. Não por eu não ser particular fã de Damon, mas fundamentalmente porque a diferença de idades é notória - os actores têm uma diferença de sete anos e tal não passa despercebido. Nem para Kinnear, que em tom jocoso de autocrítica se refere às suas visíveis olheiras.

O elenco é composto ainda pela "jovem" Cher a fazer de si própria, pela recém diva de Hollywood Eva Mendes no estereótipo da loira-burra, pela asiática desconhecida Wen Yann Shih e pelo veterano Seymour Cassel (Rushmore, The Royal Tenenbaums) no papel de um agente de Hollywood sem escrúpulos em fase decadente. Griffin Dunne (After Hours, Who's that Girl) dá também um ar da sua graça como realizador de séries de TV de fraca qualidade.

Bob (Damon) e Walt (Kinnear) são dois gémeos siameses que em comum terão pouco mais que o fígado, de tão diferentes que são. Bob é tímido, reprimido, com pouco à vontade, acabando por sofrer sucessivos ataques de pânico. Por seu lado, Walt é galã, sedutor, gosta de arriscar e é empreendedor. Ambos vivem com a aceitação. Sabem que são diferentes e lidam com a diferença com a maior das naturalidades. Os diálogos entre os dois, como se de duas pessoas independentes se tratassem, fazem-nos esquecer que estamos perante duas pessoas unidas fisicamente. Bob e Walt sempre triunfaram ao longo da sua vida, tirando proveito da sua condição limitativa.

A moral de Stuck on You é nada mais que o triunfo da força de vontade sobre a adversidade, sobre a limitação física; a vitória da aceitação sobre a intolerância gerada pela diferença. Mas o filme dos irmãos Farrelly é demasiado inconsistente. Parecem existir pretensões de seriedade por trás dos elementos de comédia - há inclusivamente algumas cenas amargas, em que as personagens deixam transparecer tristeza. Como comédia, o filme não tem piada. Mas não é certamente como filme sério que Stuck on You se consegue afirmar. O resultado é indefinido e deixa-nos perdidos. O filme soa a falso e sabemos que o material está longe de ser o dos Farrellys.

Uma mais valia do filme será, sem dúvida, o fair-play que alguns actores - ou no caso, actrizes - demonstram em participar num projecto desta categoria. Cher, a fazer de Cher, é suficientemente auto-crítica para que torne objecto de fácil aceitação pelo público, com toda a obsessão pela imagem, pelo culto do corpo. Possivelmente uma das primeiras vezes que Cher põe em causa a sua jovialidade. Ou, pelo menos, brinca com isso. A lasciva Eva Mendes não tem problemas em levantar no público dúvidas quanto à naturalidade do seu corpo, e até Meryl Streep, num breve cameo a fazer de si própria, demonstra que os irmãos Farrelly são minimamente influentes num grupo mais elitista de Hollywood - sistema que o filme também critica, embora de forma superficial e insípida.

Ainda uma menção honrosa para a excelente selecção musical que consegue conferir alguma unicidade a este produto tão desigual.

Classificação: 5/10