abril 18, 2004

«Shattered Glass»



Título Português: Shattered Glass: Verdade ou Mentira
Título Original: Shattered Glass
País de Origem: EUA/Canada, 2003
Realizador: Billy Ray
Argumento: Billy Ray, baseado num artigo de Buzz Bissinger
Elenco: Hayden Christensen, Peter Sarsgaard, Chloe Sevigny, Rosario Dawson, Steve Zahn, Hank Azaria
Fotografia: Mandy Walker
Música: Mychael Danna
Produção: Cruise-Wagner Productions, Lions Gate Films
Distribuição Nacional: LNK
Género: Drama
Duração: 95 min
Classificação Etária: M/12

Inspirando-se num episódio real, o argumentista Billy Ray (Color of Night, Volcano) estreia-se na realização com Shattered Glass - um sublime exercício de realização sobre a ética no mundo do jornalismo; um ensaio sobre o comportamento humano. Ray adapta um artigo do jornalista galardoado com o Prémio Pulitzer Buzz Bissinger e, ao contar a história de Stephen Glass, promove debate sobre a responsabilidade editorial num filme em que impera uma enorme componente humana.

Stephen Glass celebrizou-se como um jovem jornalista que, tendo colaborado em várias publicações, viu o seu sonho de glória e reconhecimento tornar-se realidade na prestigiada revista The New Republic. O seu sonho viria a transformar-se no seu maior pesadelo à medida que a autenticidade de um dos seus artigos - Hack Heaven - era posta em causa por um jornalista da Forbes Magazine. Tendo sido desmascarado, concluiu-se que 27 dos 41 artigos de Glass tinham sido total ou parcialmente fabricados.

O filme de Billy Ray começa com Glass a discorrer sobre o árduo mundo do jornalismo, sobre as rivalidades, sobre a competição, e Glass refere Woodward e Bernstein. É natural. Mas curiosamente, Shattered Glass está nos antípodas de All the President's Men, filme seminal de Alan J. Pakula sobre o jornalismo de investigação. Não retirando mérito ao filme de Pakula, Shattered Glass triunfa onde o filme sobre o escândalo de Watergate dos anos 70 eventualmente falhará; por ser demasiado documental, demasiado clínico.

Shattered Glass não se perde nas especificidades do mundo do jornalismo e mesmo assim consegue de forma eficaz evocar toda uma metodologia, uma lógica de redacção explorada previamente em grandes filmes sobre o universo das revistas e dos jornais. Ficando o acessório de fora, há espaço para Ray abordar toda uma componente humana, de anti-herói, daqueles que constituem as redacções. Não há grandes furos. Há antes dilemas e conflitos internos. Há questões éticas e profissionais. Há toda uma dissertação sobre a amizade e lealdade num universo em que os factos são o bem mais precioso.

A história pessoal de Glass, ainda que fascinante, é quase como um pretexto para Billy Ray explorar algo mais profundo. Sobre a moral. Sobre o poder da comunicação. E é esse exercício de subtileza, de contenção, que transforma Shattered Glass num filme provocador, de uma calma desconcertante - ao contrário do que estamos habituados a ver nas redacções - à medida a que assistimos ao confronto entre um editor e um dos seus mais prodigiosos jornalistas.

Peter Sarsgaard foi nomeado para um Globo de Ouro e recebeu vários prémios da crítica norte-americana. O seu desempenho é, de facto, notável. Sarsgaard encarna uma personagem que foge aos clichés do género e o seu carácter humano só lhe confere autenticidade. Acreditamos que aquele editor está a viver um drama. Seja por não conseguir defender um dos seus jornalistas, seja por ter a cabeça a prémio como responsável editorial de uma conceituada revista.

Por outro lado, é bom ver que Hayden Christensen existe fora de Star Wars. Anakin consegue ofuscar os papéis de The Virgin Suicides ou Life as a House, mas enquanto não estrear o Episódio 3 de Star Wars, Hayden poderá ser lembrado como Stephen Glass. Sem ser brilhante, o desempenho de Hayden é funcional, ainda que com algumas limitações para a complexidade da personagem de Glass. Quanto ao restante elenco, de Steve Zahn e Hank Azaria gosto sempre, Chloe Sevigny não passa despercebida porque… é Chloe Sevigny, mas a promissora Rosario Dawson não se percebe muito bem o que anda por ali a fazer.

Não há cenas de acção ou perseguições em Shattered Glass. Há antes todo um drama humano e um exercício de reflexão sobre a nossa responsabilidade enquanto veículos de informação na sociedade actual. Um filme a ver, sem hesitações.

Classificação: 8/10