Título Português: A Janela Secreta Título Original: Secret Window País de Origem: EUA, 2004 Realizador: David Koepp Argumento: David Koepp, baseado no romance de Stephen King Elenco: Johnny Depp, John Turturro, Maria Bello, Timothy Hutton, Charles S. Dutton Fotografia: Fred Murphy Música: Philip Glass Produção: Columbia Pictures Corporation Distribuição Nacional: Columbia TriStar Género: Drama, Thriller, Terror Duração: 96 min Classificação Etária: M/16 | |
Secret Window, de David Koepp, tem sido promovido como "o filme do argumentista de Panic Room". A manobra de marketing parece-me infeliz, se não mesmo redutora, pois Koepp é um argumentista conceituado nos meandros de Hollywood que assinou argumentos de filmes como Jurassic Park, Carlito's Way, Mission: Impossible, Snake Eyes, Spider-Man, entre outros. Se alguns filmes poderão não ser brilhantes, há um reconhecimento quase unânime das capacidades da escrita de Koepp. E não só. Convém não esquecer que Koepp realizou em 1999 Stir of Echoes, um fascinante exercício de mistério e terror sobre a obsessão de um homem à procura de "qualquer coisa".
Com Secret Window, David Koepp adapta ao cinema mais um romance do prolífero Stephen King (The Shining, The Green Mile) e o resultado é insuficiente, tanto a nível de escrita como de realização. O filme centra-se num escritor em bloqueio - aliás, tema já explorado por King - que, um dia, é confrontado por um desconhecido que o acusa de plágio. A premissa não podia ser mais interessante. E se um dia nos aparecesse um estranho com um rascunho daquilo que nós, enquanto escritores, tínhamos publicado uns anos antes? Mais interessante seria a premissa se nós tivéssemos consciência de que não havíamos plagiado material algum. E é como começa Secret Window.
O filme de Koepp falha em larga medida porque desde cedo é demasiado previsível. Rapidamente se percebe que o homem que acusa o escritor de plágio não existe, que é apenas um produto da sua imaginação - lembramo-nos de Fight Club, é inevitável. Mas é delicado apontar a falta de originalidade de Secret Window se tivermos em consideração que o romance de Stephen King é anterior ao romance de Chuck Palahniuk, em que o filme de Fincher se baseia. Se, no limite, a reviravolta de Fight Club não é totalmente original, Fincher consegue, pelo menos, esconder de forma exímia as pistas que vai deixando, distraindo desta forma o espectador. Em Fight Club, até à reviravolta, tudo é mais importante que a reviravolta. O mesmo não acontece em Secret Window. Koepp parece preocupado apenas em explorar o conceito da (in)esperada reviravolta. As obsessões do escritor não têm o merecido aprofundamento e mesmo o riquíssimo tema do plágio é abordado de forma superficial, com o propósito único de fazer avançar a narrativa. No romance de King, está explícito que o escritor plagiou, e que a sua loucura daí provirá; há toda uma insinuação de um profundo sentimento de culpa.
Secret Window poderia ser um filme bem mais interessante, mesmo sendo previsível. Uma premissa de Secret Window, com um autor a enlouquecer, perseguido pela sua consciência - mesmo que na forma de outra personagem - é matéria suficientemente rica para que o filme não se sustentasse numa reviravolta. O problema não é o material (ou a reviravolta) do filme de Koepp não ser original; o problema é o filme de Koepp em si não ser original. Porque é dado demasiado relevo ao mistério, à reviravolta, e as pistas nem sequer são convenientemente apagadas. Estamos à espera de um final à Fight Club, e quando o final chega, muito ficou por desenvolver. A escrita de Koepp não satisfaz. Plágio, loucura, múltipla personalidade, obsessão, são temas que Koepp poderia explorar e o seu argumento renega para segundo plano em prol de uma reviravolta.
Tecnicamente correcto, com bons momentos de tensão traídos apenas por alguns tons de comédia, o filme vive fundamentalmente da interpretação do verstátil Johnny Depp (Edward Scissorhands, Pirates of the Caribbean) no papel do escritor perseguido e ameaçado. John Turturro (Barton Fink, Quiz Show) é, também, suficientemente convincente e assustador no papel do homem que acusa o escritor de plágio. Interpretações discretas e contidas de Maria Bello (Coyotte Ugly, The Cooler) e Timothy Hutton (Beautiful Girls, City of Industry) bem como dos restantes secundários.
Secret Window tem material de primeira, mas a abordagem é superficial. E ao termos consciência do que se está a passar, há muito pouco a que nos possamos agarrar.
Classificação: 4/10