Por vezes, em conversas, alguém me diz que não tem um filme da sua vida, que não consegue escolher um apenas, que gosta de vários filmes, de diversas épocas, de géneros distintos; que admira vários cineastas, que viu vários filmes marcantes. Porque não acredito que alguém não tenha um filme da sua vida, ficam as deambulações por aquilo que considero ser o filme da nossa vida...
O filme da nossa vida não é necessariamente uma obra-prima cinematográfica, mas é certamente um filme com reconhecido valor estético, histórico ou formal. Poderá não ser o filme que mais vezes revimos, mas vimo-lo com certeza mais do que meia-dúzia de vezes. E cada vez que o fazemos descobrimos qualquer coisa nova, anteriormente passada despercebida. Não será um filme que estreou o ano passado, mas também não é forçosamente um filme da primeira década da história do cinema. Sabemos que, objectivamente, não se trata do melhor filme jamais feito, mas temos por ele um carinho especial. É um filme que vimos em determinado período da nossa vida, que nos marcou, com o qual nos identificámos ou ainda nos identificamos. E por mais datado que o filme esteja, aquilo que sentimos ao revê-lo permanece imutável. Sobre o filme, tudo lemos e, quiçá, escrevemos. Comprámos o DVD mal foi lançado (ou ansiamos pelo seu lançamento). E já tínhamos o VHS. E livros, entrevistas, ou recortes sobre o filme. Se não sabemos os diálogos de cor, temos certamente presentes na memória algumas frases. E muitas, muitas cenas. Tudo adoramos no filme, até as suas pequenas falhas; porque as falhas não têm importância neste nosso filme fetiche. É um filme com tanto valor e tamanha riqueza que qualquer sinopse ou texto de breves linhas é redutor face a tudo o que pensamos sobre o filme. O filme da nossa vida é um filme em que o coração triunfa sobre a razão, um filme que nos faz sentir mais do que nos faz pensar; e todos temos um. O meu é Taxi Driver, de Martin Scorsese; e qual é o vosso?