abril 26, 2004

«Dawn of the Dead»



Título Português: O Renascer dos Mortos
Título Original: Dawn of the Dead
País de Origem: EUA, 2004
Realizador: Zack Snyder
Argumento: James Gunn
Elenco: Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer, Ty Burrell
Fotografia: Matthew F. Leonetti
Música: Tyler Bates
Produção: Strike Entertainment
Distribuição Nacional: Lusomundo
Género: Acção, Terror, Drama, Thriller
Duração: 100 min
Classificação Etária: M/18

Dawn of the Dead, remake do clássico de 1978 de George Romero pelas mãos do estreante Zack Snyder, é aquilo que é; um filme de zombies e nada mais. Gostar do género e não ter aversão particular a remakes é meio caminho andado para se gostar do filme de Snyder.

Vindo do mundo da publicidade e dos videoclips, Zack Snyder trabalha sobre um argumento de James Gunn - argumentista da Troma, e mais recentemente das duas adaptações ao cinema de Scooby Doo - e recria o terror epidémico de um mundo subitamente dominado por zombies. Não são necessárias explicações para o fenómeno. Como sintetiza o evangelista, "quando deixar de haver espaço no Inferno, os Mortos caminharão pela Terra" - aliás, frase que promovia o original de Romero. Snyder é rápido a definir as regras e a estabelecer o cenário apocalíptico com um breve pré-genérico. Depois disso, o público está situado e aceita tudo o que vier.

Dawn of the Dead é um filme de zombies, naturalmente, apesar da palavra "zombie" nunca ser referida. Mas as regras do género estão todas lá. Existe uma situação de cerco, em que um grupo de sobreviventes tenta resistir às dentadas dos mortos-vivos que deambulam pelas ruas, com movimentos descoordenados e corpos transfigurados. Os zombies não são inteligentes, orientando-se por fragmentos de memória ainda presentes e por um instinto de dispersão da sua condição de mortos-vivos. Há sangue, desmembramentos e gore em quantidades suficientes - ainda que se note alguma contenção - assim como alguns sustos repentinos que tão bem caracterizam o género.

Sarah Polley (Exotica, Go), Ving Rhames (Pulp Fiction, Mission: Impossible), Jake Weber (U-571, The Cell), Mekhi Phifer (8 Mile, ER) e Ty Burrell (Black Hawk Down) são alguns dos nomes principais do elenco. As personagens são minimamente estruturadas e desenvolvidas, havendo espaço para abordar temas pessoais como a paternidade ou a defesa pelos direitos dos animais. O elenco funciona e consegue criar tensão numa situação já por si tensa, em que facções se formam na luta comum pela sobrevivência. Destaque para Ving Rhames, que andava mais ou menos desaparecido, e para Sarah Polley, naquele que será, possivelmente, um dos seus papéis com maior destaque dos últimos anos.

A realização de Zack Snyder é competente e consegue agarrar o espectador do princípio ao fim. Snyder consegue habilmente explorar um clima claustrofóbico dentro de um espaço tão grande como o de um centro comercial. Como o espaço é maior, o cerco é mais lento, e Snyder tem tempo para explorar o lado humano das suas personagens, aquilo que faríamos se estivéssemos confinados a uma superfície comercial deserta, com tudo à nossa mercê. Curiosa a montage da vida dentro do centro comercial.

E porque Dawn of the Dead é um remake, Snyder presta homenagem ao filme de Romero através de inúmeras referências, mais ou menos dissimuladas, desde actores, frases, a nomes de companhias. Dawn of the Dead triunfa ao conseguir ser subtil e irónico no meio do caos e da loucura da carnificina. A música inicial dos Stereophonics "Have a Nice Day" enquando Sarah Polley regressa a casa, ou o tema "Don't Worry Be Happy" a sair das colunas do centro comercial em estilo de música de elevador, constituem breves momentos de verdadeira inspiração. Aliás, toda a selecção musical é certeira para este filme de terror, conseguindo fugir em larga medida aos sons distorcidos da música mais pesada que vai sendo utilizada de forma banal e estereotipada neste tipo de produtos cinematográficos.

O remake de Snyder falhará ao ser pouco incisivo na crítica ao consumismo que estava tão presente no filme de Romero. Enquanto no original os humanos se refugiavam no centro comercial com algum interesse pelos bens materiais, aqui toda a crítica se fica por um grupo de zombies que, orientados pelo seu instinto, é levado à superfície comercial mais próxima, como se de pessoas que se arrastam para os centros comerciais se tratassem. Não obstante, o filme de Snyder é um filme de zombies envolvente e perfeitamente válido que, seguramente, prenderá a atenção dos espectadores durante os seus 100 minutos de duração.

Classificação: 7/10